terça-feira, 5 de novembro de 2013

A sorte de uma geração perdida (um breve esclarecimento sobre o meu estado atual II)

Nada do que programei aconteceu.

Há 04 anos aproximadamente, eu chutei o balde para experimentar algo novo que vinha adiando por medo de falhar e de não lograr êxito.

Resolvi investi nas dúvidas, nas paixões suprimidas e sonhos, esquecendo-me de que há tempos não os cultivava. 

Entretanto, eu tinha que começar de alguma maneira, porque o momento perfeito localiza-se quase sempre depois do "quando ou do se", e, nunca chega. 

No início, eu me iludi com a certeza de que saber o que se quer garante o êxito na execução, especialmente, porque a minha geração foi bem sucedida no que fazia; nós seguíamos as regras de investir no conhecimento e na busca de um trabalho e tínhamos sucesso. 

Quem não gostaria de uma solução pronta? 

Aquelas regras que estiveram em vigor para as gerações anteriores não têm mais validade: "você estudava, fazia a faculdade, conseguia um trabalho, comprava uma casa, tinha filhos e, podia ficar tranquilo, que seria feliz."
Talvez a minha geração tenha sido a última a ter tido êxito financeiro com as regras das gerações anteriores, que se pareciam e que não nasceram nesse mar de possibilidades e distrações no qual o mundo está mergulhado. 

No entanto, quando tudo soava previsível, uma revolução tecnológica ocorreu e infinitas janelas se abriram para uma geração que tinha quase tudo aparentemente resolvido. 

"Agora temos a possibilidade de fazer isso?"

"Tens coragem?" 

"Será que é realmente possível?"

"Será que a gente consegue se dar bem nisso?"

Por consequência uma enxurrada de dúvidas emergem; talvez por isso seja  comum encontrar um número razoável de pessoas, fazendo análise, misticismo, lendo livros de autoajuda, confissões, blogs, biografias, com o secreto objetivo de buscar uma nova solução. 

Todos queremos achar a saída do labirinto sem ter que passar a vida ausente(*). 

No caso de nós mulheres, a nossa pressão é ainda maior, pois fomos a primeira geração a ter tido liberdade "no último", acesso à educação, a ter o próprio dinheiro, e, óbvio, sucesso. 

Enquanto nas gerações passadas a vida das mulheres eram semelhantes, na nossa geração, cada uma teve a oportunidade de escolher o seu caminho. 

Todavia, as novas possibilidades nos balançam constantemente; e parece verdade que não estamos satisfeitas em simplesmente adquirir aquele sucesso de antigamente; há um componente novo e indescritível que o dinheiro não é suficiente para remunerar.

"E como você está fazendo agora com essas novas distrações? Vai sair de onde está? Vale a pena?"

"E se eu fizer igual, dá certo?"

"Só se sabe arriscando. Não há mais modelos"

"Dá para voltar atrás? Alguém pode ir no meu lugar?"

"Não dá não. O seu lugar é aqui e agora."

Apesar de lermos frases que dignificam a jornada, e, ouvirmos falar que no final tudo dá certo, a experiência tem demonstrado que os erros, as falhas e decepções são constantes inevitáveis e têm um sabor amargo, que só muda quando a cada ato de persistência tal sabor torna-se tão familiar que passa a ser um estímulo diante das novas possibilidades de continuar nesse barco no qual viver não é preciso. 





***


(*) na primeira versão do texto, eu havia escrito a palavra "perdido", porém depois do comentário do Ronald Correa, observei que a palavra mais apropriada seria "ausente". Obrigada Ronald!

3 comentários:

  1. “Todos queremos achar a saída do labirinto sem ter que passar a vida perdido”. Alguém disse que ‘perder-se também é o caminho’. O difícil é permitir-se estranhar o novo nesta caminhada, experimentar, e assim provar novos sabores. Para o bem ou para mal, o que falta na gente é preparo, vivência, treinamento de vida. Ainda assim, que nos formemos na faculdade da vida e tenhamos doutorados em alguma área específica, não me parece suficiente porque simplesmente a vida não requer pressupostos padronizados, ela é individual. A única certeza que sinto é que ela tem muito, mais muito mais do que imagino. E acho que não fui treinado suficientemente para perceber essas possibilidades. Talvez, o caminho seja “atenção flutuante, auto análise e permissão”. Não necessariamente neste ordem. Sempre.

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  2. Ronald,
    Concordo contigo! Talvez fosse melhor dizer "sem ter que passar a vida ausente".
    Você pode até não ter sido treinado para perceber essas possibilidades, mas tem muito talento (nisso você pode apostar; você é também um poeta).
    Volte sempre. E se criar um blog, por favor, envie o link, pois vou segui-lo!
    Abraços,
    Silvia

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  3. Gosto da maneira como vê as coisas. Estamos juntos! ;)

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