sexta-feira, 3 de junho de 2011

A escolha da profissão - capítulo I

No ano do vestibular, Maria Alice começou um duelo com o seu pensamento a fim de decidir a sua profissão. Pensativa e angustiada, no seu quarto, ela caminhava e falava consigo mesma. Após alguns segundos, parou diante do espelho e se perguntou:

- Aos dezessete anos de idade, alguém sabe realmente o que quer fazer da vida? O sistema educacional sempre ditou as regras, exigindo determinados comportamentos e podando as minhas emoções. Por que a escola não produziu um manual perfeito que advinhasse a minha profissão? Por que não me prepararam para esse momento? Justo agora quando inúmeras dúvidas me recheiam, eu tenho que decidir sozinha o que quero da vida. O que eu queria ser quando crescesse? Já nem me lembro dos meus sonhos... de acordo com a minha mãe, eu tenho futuro, pois estudei nas melhores escolas, falo idiomas, fiz natação e ballet; sou um potencial competitivo para o mercado de trabalho. Mas o que isso tem a ver com a minha escolha?

Juntando o seu quebra-cabeça de perguntas e querendo uma resposta, Maria Alice continuou:

- Eu acho que já sei quem sabe o que quer: um abençoado, que desde cedo, tenha um talento especial, ou uma vocação inquestionável. Esse ser, se tiver coragem, poderá viver disso. Às vezes penso que se muitos têm talento, poucos têm coragem, porque há uma quantidade razoável de gente na minha turma que elege a carreira, considerando as matérias e assuntos que lhe são familiares. Por exemplo: acha que quer ser engenheiro, porque gosta de física e matemática; ou advogado porque gosta de ler e é articulado; ou economista, porque gosta da seção de economia do jornal; ou escolhe uma carreira para a continuação dos negócios da família, seja por vontade própria, ou ausência dela, ou ainda por pressão familiar. Há também pessoas, que por necessidade ou por garra, elegem a carreira em prol da pecúnia, garantindo a sobrevivência. E, finalmente, há aqueles, eu inclusive, que fazem as escolhas por eliminação: vão eliminando as possibilidades relacionadas a algo que não gostam e acabam escolhendo, na maioria das vezes, cursos mais generalistas, para se encaixarem em mais oportunidades. Muitas vezes, essas escolhas pouco fundamentadas, que tomamos na adolescência, dão certo. Quantos profissionais bem sucedidos não existem por aí, sem terem um talento nato e sem necessariamente terem se arrependido do caminho que trilharam? Acho que o meu talento é ser prática.

Assim começou a história de Maria Alice. Usando o sistema eliminatório, ela dissolveu a dúvida, colheu o curso que sobrou e expôs a sua decisão:

- Mãe, já decidi! Vou fazer administração de empresas.

- Que alívio ouvir isso, minha filha. Você acredita que a filha da Eleonora decidiu estudar cinema? O que a filha dela acha que vai fazer? Sem comentários, não é filha?! Temos que ser práticas na vida e buscar logo as boas oportunidades de trabalho. Tenho certeza que você vai conseguir chegar lá.

Maria Alice ouviu aquelas palavras e entendeu que “lá” era o seu destino.

2 comentários:

  1. Pois é... Estas decisões nos levam a tantas reflexões lá na frente.

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  2. Além das reflexões, o mundo dá essas voltas que nos viram de cabeça pra baixo...

    Desculpe a demora em responder.

    Bisous,
    Silvie

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