segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O discreto Laos

Antes de pensar em visitar o Laos, eu sequer sabia localizá-lo no mapa; apenas imaginava algum lugar remoto na Ásia. Quando o elegi como destino de férias, após alguns cliques, localizei o Lao PDR, escondido entre os vizinhos Tailândia, Camboja, Burma, China e Vietnã. As siglas PDR significam, para os seus cidadãos, “People's Democratic Republic”; enquanto para os turistas, significam “Please Don’t Rush”. 


Depois do nome oficial do Laos, busquei algumas palavras na língua do país, para uma interação mais amigável:

Sabai dee (pronúncia: sabaêdii): oi
khawp jai (pronúncia: kop diai): obrigado (representado também pela união das palmas das mãos junto ao peito).
De curiosidade, comecei a perguntar sobre o Laos às pessoas que já o tinham visitado, e todos respondiam basicamente o seguinte: o visto pode ser conseguido no aeroporto, pagando-se 20 dolares americanos; e o Laos é um país lindo e interessante; você vai adorar. Isso não me satisfazia. Por isso, mãos à obra: pesquisa de cá, pesquisa de lá, e, a maioria dos sites indicava três cidades a serem visitadas: Luang Prabang, uma cidade de estilo francês; Vang Vieng, uma cidade festeira para backpackers; e Vientiane, a capital, com uma réplica (inacabada) do arc de triomphe.

Essas informações não me despertaram tanta curiosidade. Por isso, cheguei ao Lao PDR, com expectativa baixa. Talvez por conta disso o Laos tenha me surpreendido tanto, começando por Luang Prabang que é uma das cidades mais antigas e a mais charmosa do Laos; foi a primeira que visitamos. Ficamos hospedados numa guest house, entre o rio Mae Kong e o templo Xieng Thong. Ótima localização para assistir a almsgiving cerimony, na qual os monges budistas saem descalços às 6:00 am dos templos e recebem das pessoas locais (e turistas) sticky rice (um tipo de comida). A cerimônia é linda e não diz respeito somente à caridade, mas também a uma forma de por as pessoas em contato com a humildade. Vale à pena acordar cedo e assistir. Além do almsgiving cerimony, há vários pontos turisticos em Luang Prabang: os templos Wat Saen e Wat Sop e Xieng Thong (meu favorito); o monte Phou Si, para ver o por do sol; a cachoeira Kuang Si tem água azul-azul, é geladinha e vale um mergulho; a caverna das mil estátuas do Buddha (a caverna não me pareceu nada demais, mas o caminho até lá é lindo e é feito através de barco). Em geral, entre um ponto turístico e outro, pode-se ir a pé, ou de bicicleta, exceto: a ida à cachoeira (há que se pegar uma mini-van ou tuk-tuk).
Após quatro dias conhecendo a cidade, conversando com os locais e descobrindo mais detalhes históricos sobre o Laos, estávamos apaixonados por Luang Prabang e curiosos para conhecer uma cidade que não havia sido incluída no nosso roteiro. Fizemos os cálculos de tempo de viagem, refizemos os planos e decidimos atravessar as montanhas, numa van, pra visitar Phonesavan. 


A cidade é pequena e não tem qualquer charme visível aos nossos olhos de ocidentais, porém lá se encontram os misteriosos Plains of Jars. Esse local é formado por jarros grandes (maiores que uma pessoa) que guardam um mistério de confecção semelhante ao das pirâmides do Egito. Os arqueólogos e cientistas não conseguiram descobrir de que modo foram feitos os Jars nem para que foram feitos. O lugar é intrigante.   

Phonesavan guarda também em filmes a história secreta do Laos. O que você faria se alguém jogasse pedras na sua casa? O que você faria se alguém jogasse pedras na sua casa durante dez anos? Na década de sessenta, enquanto os olhos do mundo estavam voltados para o movimento hippie e para a guerra do Vietnã, o Laos era bombardeado a cada oito minutos. Essa guerra contra o Laos ficou conhecida como “the secret war”. Ao longo dos anos, constatou-se que 30% das bombas lançadas no Laos não explodiram quando lançadas, e, portanto, continuam ameaçando e prejudicando a população até hoje. 


Há uma organização, www.maginternational.org , que tem feito um trabalho de conscientização, envolvendo crianças e adultos para “limpar” o país e evitar mais amputações e mortes. O que o povo do Laos tem a dizer sobre o passado? Que o passado passou e nosso coração está livre! O povo do Laos tem aprendido a fazer arte com as bombas encontradas e desativadas. Ao andar pela cidade, os olhos atentos podem ver jardineiras feitas de bandas de mísseis, colheres, sustentador de menu, dentre outros enfeites variados. As sessões dos filmes sobre a história do país são gratuitas e o aprendizado torna a cidade inesquecível!
Dois dias de realidade nua e crua para os turistas curiosos foram suficiente para voltarmos à rota inicial rumo à festeira Vang Vieng. Pra evitar o barulho da cidade dos backpackers, buscamos acomodação à margem do rio, a aproximadamente 10 minutos da rua principal, preferida pelos jovens viajantes; assim, estávamos salvos do barulho e rodeados de montanhas acolhedoras. Bicicleta pra lá e pra cá pra visitar uma caverna enorme no meio de uma montanha. O caminho até a montanha valia qualquer sacrifício; e ao chegar no pé da montanha, há um lago azul e gelado perfeito para quem quer se refrescar; e à beira do lago os turistas relaxam e contemplam aquele pedaço de paraíso. Pra conhecer a caverna, um guia local é necessário. 


Em Vang Vieng, também se pode fazer um passeio de balão cedinho da manhã; a vista da cidade é pitoresca, as crianças correm pra acenar; as montanhas parecem querer nos abraçar, e o sorriso não sai da boca. Nunca havia feito passeio de balão e não queria ir... Teria me arrependido se não tivesse feito. Uau! Devo confessar também que não queria fazer o “tubing” (sentar no pneu e descer o rio abaixo, parando de bar em bar), mas fiz e não é que gostei e até fizemos facebook friends!?
Depois de três dias e uma ressaca, partimos para a capital do Laos: Vientiane. Só um dia nos restava, tendo em vista a inclusão da cidade de Phonesavan no roteiro. Por isso, finalizamos a viagem com uma visita rápida a dois templos Wat Si Saket e Haw Pha Kaew, ao “Arc de Triomphe”, e à padaria croissant d’or.
C’est fini, mon amour!   

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