quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Compromisso, ou pacto?

Talvez não seja nada. Se fosse, seria uma tentativa de atravessar o deserto existente entre o querer e o fazer, ou melhor, entre o querer executar algo específico e o realizar qualquer coisa que seja. Aquele dilema residual entre a teoria e a prática. 

A teoria reza que quem sabe o que quer tem meio caminho andado. 

Disso, a prática pode discordar; ou soasse mais honesto afirmar que a minha prática tem discórdia da teoria. 

A teoria não se mexe; é estática, porém garante que funciona, se executada. Escrever é fácil: sente-se, tecle as letras, que produzam palavras, em ordem lógica. A partir daí, tem-se um parágrafo; e se continuar, terá um texto. 

A minha prática tem um contra-argumento solerte: o texto não será  necessariamente aprazível. Tenho várias provas disso. Tenho escrito, apesar do aparente desânimo. 

Na teoria, a qualidade não importa, mas o hábito.

Na prática, o Gregório, aquele personagem que me conhece tão de perto que me assusta, sopra:

"A verdade é que nós precisamos fazer algo que seja admirado. Deixe esse sonho de escrever; troque, faça algo que você obtenha reconhecimento." Ele tem sugerido ainda que se pulem todas as etapas, saindo do zero imediatamente ao esplendor. 

"O importante é a viagem." Eu retruco, saboreando o gosto pálido de um clichê internacional, porém verossímil.

"Não me diga. Você faz isso até lendo um livro, você viaja há muito tempo,  está perdida há quilômetros de distância, e ultrapassou a fronteira do bom senso há alguns anos." E percebendo que está prestes a me convencer, dessa vez, ele insiste, com um ar douto: "essa perdição é confusa e solitária; isso sem falar em ganhar dinheiro."

Solitária? E o que você faz aqui comigo, interpelando as minhas tentativas? A julgar pelas aparências, temos um diálogo, quem sabe um texto. Perdidos, sim; no entanto, sozinhos, não estamos.

"Eu não existo. Diálogo? Quem disse? Porém alerto: há milhões de pessoas fazendo há muito tempo o que você sonha em começar."

Nesse ponto, lastimo... ele tem razão. O sentimento de que cheguei atrasada, às vezes, provoca uma neblina em volta das ideias; e também aquela sensação de que tive mais medo do que coragem é vexatória; e a combinação desses ingredientes estimula a desídia. 

É como se eu tivesse eleito um objetivo impossível; porém seguindo por essa estrada íngreme, chegaremos ao outro lado onde eu encontro paixão para vida inteira; e o fazer, fazendo agora, é melhor do que qualquer "eu fiz".

"Então, escreva. Quero ser o personagem principal. Por favor, faça me deslumbrante. Temos um pacto?"

"Pacto? Você não existe. A propósito, silêncio, porque eu fiz um compromisso, que começa hoje e só termina no final da estrada."













quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

As coisas influentes da vida chegam assim sorrateiras


Dizem que o livre arbítrio funciona como uma dose pequena de antídoto para o que o destino, a vida, o divino, ou a natureza apresentam como implacável. Entretanto, de alguma maneira há uma sintonia. Pelo menos, é o que dizem aquelas pessoas que não acreditam em coincidência. 

O lado bom de estar perdido torna qualquer informação em fonte de utilidade; ciência e simpatia têm pesos semelhantes porque para os perdidos a razão há muito já deixou de ser o único condutor da verdade.

O duro é confiar nesse além, nessa infinidade, divindade, que uns garantem, por fé, existir. Eu não tinha prática desses aléns. Eu só queria tentar viver a vida de forma inteira, com propósito e sentido, dentre outras coisas lunáticas que podem nos guiar a uma poesia, ou ao canal da sanidade, de aparência suspeita. Mais ou menos como se uma juventude súbita nos acometesse e nos desse o direito de recomeçar, de errar tudo de novo, sem o medo dos adultos disfarçado de ponderações. 

Lá estava eu escrevendo diário há mais de 4 anos, sem parar, com o objetivo de me conhecer melhor. Eu mal sabia... se a célula é infinita, o que será  o ser humano, porém até a gente se separar do fantasma da autoimagem leva muito tempo.

E qual não foi a minha surpresa?

Eu não era eu.

Assumidamente perdida, economizei dinheiro para sair por aí, tão logo eu engolisse um litro de coragem.

Conversei com todos os meus amigos espalhados pelo mundo, extraí deles as informações necessárias sobre viver “por aí”. 

Com tudo meticulosamente calculado, a zona cinzenta resolveu clarear.

“Em seis meses, vou sair por aí.” 

O que eu não imaginava, o que não estava nos meus planos, aconteceu. Justo naquele momento em que eu tinha toda certeza do que queria na vida e da vida.

Ela surgiu. Era um adulto, fantasiado de paixão.

Esconjuro; só pode ser quebranto. Já passei da adolescência. Fingi que não era comigo.

Não aceitei a rasteira da natureza humana (feminina) de achar: "dessa vez é amor", segurei os meus planos com unhas e dentes,  e segui. Como se não bastasse o peso da decisão de deixar o trabalho, havia aparecido do nada uma pessoa para embaralhar as cartas de novo. 

"Não é não. Não é não?"

Contei a uma amiga sobre os meus planos e ela sugeriu que fizéssemos uma viagem de carro, regada com muita conversa. Ela me garantiu que tinha uma saída.

Expliquei à empresa que eu deveria viajar por 15 dias; era urgente.

O mais importante era continuar seguindo, sem hesitar. 

Quando voltei, tudo estava sob controle. Embora eu tivesse passando por um turbilhão emocional, ninguém sabia (pelo menos, ele não sabia); era só manter o pulso firme, que ia passar.

Outra oportunidade de viajar desenrolou-se sem que eu demandasse; justifiquei que a minha presença era necessária naquele lugar. Os meus colegas de trabalho me olhavam como uma impostora; em menos de dois meses, eu já estava na estrada novamente. 

Ao fazer a mala, resolvi doar as minhas roupas; seria o começo daquela outra viagem para qual eu estava me preparando. Selecionei e as coloquei num isopor para levar e doar. 

Meu irmão, quando viu a suposta mala, narrou uma história de uma pessoa que levou malas de isopor e não pode viajar, porque a companhia aérea solicitou de última hora a abertura do continente para saber o que havia de conteúdo.

Não liguei a mínima e disse que se fosse preciso, eu explicaria que era para doar e que se fosse necessário doaria ali mesmo. Eu não deixaria de viajar por causa disso. Desliguei o celular, e, no aeroporto, eu já estava me sentido a salva, eu viajaria com ou sem mala.  

O voo atrasou por mais de duas horas, e durante essas duas horas, meu irmão brincava sobre a minha mala, como sendo o motivo de tanta delonga. E eu... só pensava em fugir.

“Silvia, favor, comparecer ao balcão da gol o mais breve possível.” 

Ao ouvirmos esse anúncio do alto-falante, meu irmão ria e dizia: vai lá buscar o isopor.

Ao chegar ao balcão da companhia aérea, descobri que o motivo do anúncio era uma armação convicta da natureza humana (masculina): "ela não me escapa". 

E sem dizer muito, ele me abraçou e me beijou.

***

Obs.: o título do texto pertence ao personagem Riobaldo, do livro Grande Sertão: Veredas, do G. Rosa.



quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

09 motivos que estão deixando a mulher (de 40) discretamente em estado de alerta

  1. pensar se deve ou não dissimular os cabelos brancos;
  2. saber que a natureza é implacável, que vai colher o que plantou;
  3. deixou de se preocupar tanto com o que os outros pensam dela;
  4. perceber que tem algo de nobre e de pop(ular); gosta de histórias orais tanto quanto gosta de livros;
  5. se não fez sucesso até agora, por que continua se preocupando com isso;
  6. perguntar-se se deveria ter investido mais na carreira do que na família;
  7. em seguida, perguntar-se se deveria ter investido mais na família do que na carreira;
  8. ou por que investiu tanto na carreira quanto na família, quando deveria, talvez, ter elegido uma das duas;
  9. ler essa lista, rir de si mesma, e se sentir mística:).
Os 40 são os novos 30 (repita isso 40 vezes), e curta essa ideia, por que não dá para voltar atrás. 




***

Obs.: itens 6, 7 e 8 inspirado nos dizeres da Martha Beck .

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

07 angústias da mulher de 30 (e uns, e tantos)

1. alguma coisa precisa acontecer na minha vida para que eu me sinta em paz e feliz;

2. isso não deveria ter acontecido; se isso não tivesse ocorrido, eu estaria em paz e feliz.

3. o que eu deveria fazer quando tudo acontece?

4. fulano/a deveria fazer alguma coisa, para que a gente fique bem; ainda estou chateada. Quem sabe ele/ela percebe e faz alguma coisa pra melhorar a situação...

5. não sei pra que eu disse aquilo pra ele/ela; se eu não tivesse dito, isso não teria acontecido e estaríamos bem;

6. o que eu deveria fazer quando nada acontece?
7. se eu tivesse um pouco mais de dinheiro, eu conseguiria resolver o meu problema.

E só depois perceber que nada disso faz a menor diferença...

Boa sorte, e até os 40.