domingo, 29 de maio de 2011

Doidos e santos

No bondinho, há aproximadamente 20 pessoas, estando a maioria sentada e meia dúzia em pé.

Um jovem, que está entre os sentados, chama atenção, pois fala incessantemente em alto e bom som, enquanto os outros exercem o seu solilóquio silenciosamente, como santos em pedestal, com o olhar inclinado pra cima.

Próximo ao jovem, ainda há dois assentos vagos.

O bondinho para, alguns passageiros saem, e um entra e se senta ao lado do jovem. Ao escutar a voz do vizinho, percebe o olhar geral de santo e busca uma ocupação imediatamente; arremata um jornal que está jogado e se interessa pela leitura, sem perceber que era a seção dos classificados; quem sabe decidiu comprar um imóvel.

O bondinho para novamente; alguns passageiros saem e um entra com passos largos e falando alto; esse tem cheiro de guardado, barba longa e cabelos grisalhos, porém um olhar vivo. Ele se senta, falante, no único banco vago, próximo ao jovem.

Ao escutar a voz do jovem vizinho, ele se desperta e silencia; e observa o olhar de santo dos demais. Calmamente, olha nos olhos de cada um dos passageiros, como quem busca cumplicidade; todos permanecem em seu pedestal e evitam qualquer diálogo. O olhar do senhor não desiste e, antes de saltar do bonde, transmite um recado:

“Entre doidos e santos, existe uma diferença: o volume da voz.”

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