quarta-feira, 3 de agosto de 2011

China - primeira impressão

Todas as cidades da China, que visitamos, guardam uma justaposição de cidade cimentada em franca expansão e uma outra cidade antiga, que exibe aquele cenário de filme chinês, feito de jardins em harmonia, como um oásis no meio dos incontáveis arranha-céus.

Ao que parece, há uma pressão para que tudo vire negócio; as antigas casas de chás estão sendo substituídas por restaurantes; para entrar na cidade antiga ou nos jardins, tem que se pagar, pois já viraram uma espécie de museu, que inclui, às vezes, os moradores. Nas ruas e lugares onde a franca expansão ainda não pôs os dedos, ainda se veem as pessoas com seus leques, nas calçadas, tomando chá, ou jogando cartas.

A China é um complexo humano, contendo 56 etnias e inúmeros dialetos. Todas as etnias parecem estar se adequando ao mercado; aquelas que viviam só da subsistência, hoje complementam a renda vendendo os produtos chineses, sejam manuais ou manufaturados; o importante é vender.

Beijing/Pequim, Shanghai/Xangai, Guilin, Jiaxing, Xian variam de tamanho, de grandes pra enormes; todas têm um ar nublado, cercada por câmeras, prédios gigantes e mercados. As cidades borbulham pressa e ansiedade, porém são seguras; tudo e todos parecem controlados, apesar do aparente caos urbano.

Talvez fosse necessário fazer um esclarecimento aqui. Inconscientemente, eu tinha uma visão única a respeito da China; por essa razão, apostei que, ao chegar, me depararia de imediato com o conhecimento oriental sobre falun dafa, feng shui, tai chi chuan, qigong, dentre outros.

Aparentemente, isso tudo ficou pra trás da revolução cultural introduzida por Mao Zedong (ou Mao Tse-tung), ou esteja escondida nos anseios atuais de consumo. Na China de hoje, a medida do ter é igual à medida do ter no ocidente.

"Queremos só um pouco mais."

A velocidade do dia-a-dia de Beijing coincide com a das cidades grandes do ocidente, como se todo mundo tivesse um compromisso inadiável. No entanto, talvez pelas longas esperas, no passado, pela vez para comprar comida, ou pelo fato de existirem no país 90 milhões de filhos únicos e uma concorrência desenfreada, a sociedade chinesa moderna aparente ser ainda mais individualista, pois não se respeitam os mais velhos nem as crianças quando o assunto é entrar num transporte público, tampouco se respeitam as filas, quando o objetivo é conseguir algo; como se pairasse no ar um medo de não conseguir. Por isso:

"Cada um por si."

Por outro lado, o povo é extremamente hospitaleiro; os amigos chineses que fizemos no caminho são generosos e dispostos a nos ajudar, alguns fazem até mímica, outros nos oferecem a melhor comida, nos levam pra passear nos lugares antigos e não nos deixam pagar nada; e concordam que a China está crescendo rápido demais. Porém não há questionamento quanto a (in)sustentabilidade desse crescimento nem quanto às medidas do governo; há uma aparência de orgulho do "progresso", do poder de compra, em troca daquela sabedoria milenar.

Capitalismo, ou comunismo?

Tanto faz, porque pra lá de leste já virou oeste.


Outros artigos sobre a China:

2 comentários: