terça-feira, 20 de novembro de 2018

A voz do Brasil (segunda versão)

Você pode me comparar a um ex-namorado. No entanto, não sou daquele tipo fácil de esquecer. 
A gente tinha tudo para dar certo. A gente vivia nossas aventuras diárias. Confesse que também gostava, quando eu te dava sustos e depois desaparecia. Eu sei que prometi melhorar. Porém você tem que entender que isso leva tempo, e, não depende só de mim; depende de você e da sua família toda. 
A verdade é que você e sua família têm pressa. Querem segurança e calmaria. Depois morrem de saudade do que tenho para oferecer agora. 
Você com aquele desejo infantil de poder andar tranquilamente pela rua, embora queira secretamente um pouco da minha loucura. Não é possível ter tudo. Essas combinações, não posso prometer agora. 
Você foi quem começou a dizer que não é mais possível ficar junto de mim, que eu te sobrecarrego, que eu consumo a sua energia. Você decidiu ir embora, achando que isso seria suficiente para me tirar de você.
Deixe-me te lembrar um pouco como você se sente quando escuta acidentalmente os tambores da minha música: seus pés pisam suavemente o chão, ao passo que seu sangue circula, você nem percebe que remexe os quadris. 
Numa fração de segundos sou capaz de te emocionar com lembranças de amigos e família. Sua alma me pertence. Nós dois sabemos que você saiu de mim, mas eu nunca saí de você. Para escrever esse texto, você precisou de palavras que aprendeu comigo.
E mesmo que você more no exterior o resto da vida, aonde quer que você vá, quando você interagir com os locais, seu sotaque falará por mim, e cada um, um a um, perceberá que é uma estranha. 

E quando você se perguntar o que sou para você, eu vou te lembrar que sou a sua língua, e sempre estarei com você.
Para finalizar, posso garantir: você vai morrer de saudade, porque tudo que você construiu tem o meu fundamento. 

domingo, 4 de novembro de 2018

Parece que a gente esquece…

O dia começou como de costume.
…Pegue o pijaminha e ponha na cama, por favor.
… Venha fazer pipi logo.
… Por quê? Ora por que…
… Não precisa pegar tanto papel higiênico. Isso custa…
… É engraçado? Não acho.
… Agora vamos para a mesa. 
….Não precisa pegar tanta manteiga
… Não faça assim, limpe a mão primeiro. 
… Isso está sujo. Por favor, não pegue do chão. 
… Por favor, coma. Já está quase na hora de ir para escola.
… Vamos. Ponha qualquer sapato. 
Quando a minha filha voltou da escola, outra sessão de correções já ia começar quando ela, com aqueles bracinhos logos os suficiente para dar a volta no meu pescoço, me abraçou e disse que adorava brincar comigo. Isso mexeu com alguma válvula cardíaca aqui dentro
"O que é importante para você?” Perguntei para ela. 
"Brincar de massinha com você, passear, andar de patinete, correr…” A lista não parava. Tudo que ela falava tinha tanto entusiasmo. 
Às vezes, os nossos hábitos nos impedem de ver o que importa de verdade. 
Depois dessa conversa, decidi brincar mais e corrigir menos. Há quem diga que o amor de mãe é incondicional. Desconfio que o amor incondicional seja o das crianças.