quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Excessos

Talvez eu não saiba dizer exatamente o que provoca em mim uma explosão, porque se realmente soubesse, o evitaria.

Os excessos podem ser provocados por coisas quase invisíveis ou mesmo inventadas. Quando acontecem, é melhor não reagir, tanto melhor esperar a lente de aumento deixar os olhos.

Nesses momentos, qualquer reação, por mais racional que pareça, tem o potencial de desencadear promessas  ou ameaças vãs, lançadas indevidamente aos transeuntes próximos. 

Quando as explosões me ocorrem, eu me aproximo da inconsciência, da brutalidade, da injustiça; é como cair num labirinto. 

É tão insólita a experiência que gera, em mim, empatia pelos que cometem crimes, porque visualizo o meu potencial irascível, sendo domado a duras penas, como se no mundo não houvesse lugar para opositores. 

Talvez o excesso tenha a aparência física da asa da barata. É evidente que a barata, por si só, sem as devidas asas, atinge por completo os seus objetivos; ela é invicta à radiação; apesar de seu tamanho e fragilidade, é capaz de causar horrores; nem o mais bravo dos homens ousaria pisá-la descalço. 

Ao que parece, o excesso tem capacidade de se repetir em ciclos exaustivos, tirando os nossos pés do lugar, ora catapudando-nos ao êxtase, ora nos deixando cair nas profundezas inóspitas do medo.

Evitar excessos é uma luta inglória, seria como rezar para que as baratas nascessem sem asas. 

Por outro lado, acredito ser possível desvendar a sua dinâmica, ao custo de decididos sacrifícios.  Particularmente, transito entre as ondas das explosões, registrando diariamente as narrativas dos livros internos, antes que as lâmpadas das casas sejam acesas, antes que o mundo acorde e me convença de que os próximos extremos sejam reais. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário