quarta-feira, 4 de maio de 2011

Futurama

Todas as vezes que me preocupei com o futuro, acumulei um pouco de dinheiro e muita ansiedade. Eu me recordo do momento em que desisti, e comecei a optar pelo presente.

“Como você se vê daqui a cinco anos?”

Tenho que responder o que o interlocutor espera. Algo que dê lucro; ambicioso; megalomaníaco talvez; sem soar exagerado, factível. Vamos lá, pensa rápido. Não é possível. Essa pergunta só pode ser feita pra gente mentir. Será que há cinco anos ele se imaginava aqui me entrevistando? Se eu mentir vou entrelaçar as pernas e os braços, nem precisa detector. Refleti. Mas tenho que responder algo rápido. Pensei e lancei a sorte.

“O senhor me dá um minutinho?”

Baixei a cabeça, pus os cotovelos na mesa e com as mãos segurei a testa. É tão óbvio que não sabia a resposta que não conseguia ver; fiquei buscando desesperada uma resposta chavão.  Fiz até um filminho mental, cujo personagem era uma pessoa solicitada, sem tempo. Não era eu. Esse minuto deve ter durado 10 segundos pra mim e uma hora para o interlocutor, que com o cotovelo na mesa segurava o queixo com uma mão, e, com o canto do olho apreciava o relógio na outra.

“Não sei. Desculpe desapontá-lo.” Eu depus. 

“Nunca imaginei que fosse ouvir isso de um canditato.” Ele disse, sem cerimônia. 

Ambos sorrimos com os olhos e baixamos a guarda; eu, porque já não esperava conseguir uma vaga; e o interlocutor porque foi surpreendido.

“Obrigado por ter vindo aqui. Aguarde uma resposta.”

Em algumas semanas, recebi uma carta, dizendo que eu havia conseguido a bolsa chevening do British Council. Devo confessar que fui a última colocada, porém estava tão satisfeita quanto o primeiro lugar.

Um ano depois, quando reencontrei o interlocutor, relembramos aquela entrevista, e lhe contei que não tinha qualquer expectativa de ser selecionada por conta daquela pergunta; e ele retrucou imediatamente:

“Ninguém perde por ser honesto.”

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