sábado, 12 de novembro de 2016

Porque as coisas não são como deveriam ser

Há um tempo, quando eu tinha uns trinta e cinco anos, diante das dificuldades de conhecer alguém, para compartilhar a vida juntos, decidi que gostaria de ser uma solteirona feliz. 

Porque estar com alguém só para dizer que tem alguém nunca fez o meu estilo. Além disso, naquela época, eu já havia aprendido a gostar da minha companhia. 

Foi um ano especial. As coisas pareciam ser como deveriam. Viajei bastante. Sozinha e, às vezes, com amigas. Assisti a inúmeros filmes. Sozinha e, às vezes, com amigas. Li desenfreadamente. Ficção, não-ficção, poesia e, às vezes, autoajuda. Escrevi diários e mais diários. Fiz cursos de quase tudo. Velas, feng shui, caixas decorativas, maquiagem, culinária etc. Foi um ano em que estive presente. 

Num jantar de família, cheguei a anunciar para a família que estava decidida a ser uma solterona feliz. Informei aos meus sobrinhos e sobrinhas que eles tinham a minha casa, para fazer tudo que eles não poderiam fazer na casa dos pais, desde comer com os cotovelos na mesa até levar os respectivos para noitadas românticas.

Ao ouvir a novidade, minha mãe pediu apenas que eu a poupasse dos detalhes, meu pai disse "Um-hum, você sempre foi exótica nas suas escolhas". Meu irmão assumiu que me invejava. Já a minha irmã riu que se engasgou. Tal engasgo tomou uma proporção maior do que o esperado e a minha decisão parece ter desafiado algum cupido desocupado, que espreitava a mesa.

Porque logo depois me apaixonei, de um jeito que não sei descrever. Quando digo logo depois, quero dizer poucos dias depois. Parecia um quebranto, cheguei a pensar que o rapaz havia amarrado meu nome da boca do sapo. Naqueles dias, quantas vezes eu me olhei no espelho e me perguntei:

- E quanto a nossa decisão?

Não houve qualquer resposta.

Então, foi justamente porque as coisas não são como deveriam ser que me casei. 

Aos 39 anos, ainda acreditando na garantia do livre arbítrio, decidi que não teria filhos. 

Bom, pela lógica da vida, você pode imaginar o que aconteceu aos 42 e 44. 

Desde então, tenho observado que, de direito, só posso escolher o meu humor, como interpreto o que acontece e como reajo às circunstâncias. Mas essa é uma história que vou contar em detalhes outro dia!

Obs: post - Gravidez aos 40: medo, informação, empoderamento


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