Diante de um acúmulo razoável de dramas amorosos, reciclagem de namorados, 360 horas de terapia, 592 monólogos, e , para arrebatar, depois de mais um pileque homérico para ajudá-la a fingir normalidade, Joana Dark viu-se sugada por um espiral de vento, que a pôs de cabeça para baixo, sacudindo as suas percepções.
Pendurada daquele modo, conseguiu visualizar o labirinto no qual se metia. Todos os caminhos que ela havia tomado até então a levavam ao mesmo lugar: submissão às piores circunstâncias para saciar o desejo, de aparência atávica, de ser amada.
Talvez fosse tarde para tomar um rumo que a tirasse daquele terrorismo emocional no qual ela havia habituado a sentir um prazer pelo avesso. Talvez ela não saísse viva daquela experiência insólita; quiça aquele momento fosse o seu fim.
No entanto, foi o começo.
Joana acordou daquele estado letárgico, como se tivesse passado por uma lobotomia. Revia cada cena do seu passado com um distanciamento e se repetia:
“Não era eu. Não somos nós.”
Afastou-se de qualquer situação que lhe posicionasse de volta naquele labirinto, apesar do vício habitual.
“Aqui eu não entro mais.”
Ela não deixou de apreciar flores, sedução e romance. Porém, tinha ciência da porta da armadilha e a evitava.
Possivelmente por essa razão, quando em rodas ou mesas de bares, alguém encaixava a mulher em um estereótipo, ela rebatia e de tanto negar ser estereótipo, deixava transparecer a fome de provar que havia mudado. No entanto, os comensais faziam questão de lhe relembrar os exemplos e as estatísticas.
Aos poucos, ela percebeu que não importava o esforço evolutivo que uma mulher fizesse, pois algum exemplo estaria lá para denunciar a todas e classificá-las. A partir daí, ao invés de rebater, optou por negar-se a si mesma e seguir, independentemente de como a viam.
Anos mais tarde, quando a reencontraram, não conseguiam mais enquadrá-la; por isso, queriam saber o que ela havia feito; e ela honestamente respondeu:
"Não procurei mais a felicidade em lugar nenhum."
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