quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Lá e Cá

Estamos vendo pela TV cenas horríveis causadas pelas chuvas. Uma tragédia anunciada, que poderia atingir ou ultrapassar os prejuízos sofridos pela última enchente. Os especialistas declararam que as forças da natureza deixariam no mínimo três cidades em estado de emergência, devido ao número de casas e comércios inundados. As tragédias anteriores e essas previsões foram suficientes para o governo local, estadual e federal unirem todos os esforços e traçarem um plano de prevenção.


O plano englobou centros de evacuação para abrigarem as pessoas que tiverem que deixar as suas casas; arrecadação de comida, dinheiro, roupas e remédios. O plano contava com a ajuda de inúmeros voluntários e doações. O governo conseguiu arrecadar 30 milhões doados pela população; a associação de supermercados e de farmácias doaram alimentos e remédios. Os voluntários doaram roupas e trabalho. Tudo preparado para o pior que pudesse acontecer.


Quando as nuvens começaram a avançar em direção àquelas cidades alertadas sobre o risco que corriam, a grande maioria dos moradores aceitou deixar as suas casas e fecharem os seus comércios. A televisão divulgou imagens de pessoas carregando os seus pertences essenciais e partindo; juntamente com os demais vizinhos da comunidade, o ministro das relações exteriores foi visto com as calças suspensas até o joelho e malinha na cabeça, pois a água já começava a atingir proporções desconfortáveis. Aqueles que não tinham para onde ir, abrigaram-se nos centros de evacuação. Apesar do olhar apreensivo de todos, o senso de comunidade permanecia inabalável. O comentário padrão era: ajude um vizinho, um amigo, ou um estranho.


Conforme previsto pelos especialistas, devido às chuvas, o nível do rio atingiu 4,2 metros, o que foi suficiente para alagar 115 mil casas e comércios, área equivalente à metade da Europa, e transformar o lugar mais atingido numa cidade fantasma. Apesar de todo o esforço, 16 pessoas morreram. O país inteiro está inconsolável por esse infortúnio.


Gostaria de estar descrevendo sobre a atuação preventiva em caso de inundações no estado do Rio de Janeiro, porém o texto acima refere-se à enchente ocorrida, nesses dias, no estado de Queensland, na Austrália.


Quanto às inundações ocorridas no Rio, coincidentemente no mesmo período, não houve elaboração de um plano preventivo. Por isso, a população contou apenas com o trabalho emergencial dos bombeiros e voluntários. Apesar de todo o esforço, o caos visto em Niterói, no ano passado, repetiu-se em outras cidades, infelizmente; e o número de pessoas mortas é estarrecedor: 647. Diante da tragédia ocorrida, o governo federal comprometeu-se a doar R$780 milhões; e o estadual anunciou obras. Os cidadãos registraram através dos meios de comunicação os seus comentários, demonstrando um sentimento de injustiça e indignação contra as autoridades.


É quase inevitável a comparação e, portanto, alguns questionamentos: o cidadão australiano vale mais para o seu governo do que nós valemos para o nosso? Ou nós valemos para o nosso governo tanto quanto ele vale para nós? Ou ainda: será que o nosso senso de comunidade está tão aquém que nos preocupamos mais em registrar comentários contra os supostos responsáveis do que por quem foi atingido?


Não pretendo ser um paladino de reflexões, porém gostaria muito que isso te incomodasse, porque um dos piores cenários começa com o discurso do “isso acontece todo ano e eles (do governo) não fazem nada”.


Com a certeza de que podemos fazer melhor,


Um pedaço de nós.

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