segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

O discreto Laos

Antes de pensar em visitar o Laos, eu sequer sabia localizá-lo no mapa; apenas imaginava algum lugar remoto na Ásia. Quando o elegi como destino de férias, após alguns cliques, localizei o Lao PDR, escondido entre os vizinhos Tailândia, Camboja, Burma, China e Vietnã. As siglas PDR significam, para os seus cidadãos, “People's Democratic Republic”; enquanto para os turistas, significam “Please Don’t Rush”. 


Depois do nome oficial do Laos, busquei algumas palavras na língua do país, para uma interação mais amigável:

Sabai dee (pronúncia: sabaêdii): oi
khawp jai (pronúncia: kop diai): obrigado (representado também pela união das palmas das mãos junto ao peito).
De curiosidade, comecei a perguntar sobre o Laos às pessoas que já o tinham visitado, e todos respondiam basicamente o seguinte: o visto pode ser conseguido no aeroporto, pagando-se 20 dolares americanos; e o Laos é um país lindo e interessante; você vai adorar. Isso não me satisfazia. Por isso, mãos à obra: pesquisa de cá, pesquisa de lá, e, a maioria dos sites indicava três cidades a serem visitadas: Luang Prabang, uma cidade de estilo francês; Vang Vieng, uma cidade festeira para backpackers; e Vientiane, a capital, com uma réplica (inacabada) do arc de triomphe.

Essas informações não me despertaram tanta curiosidade. Por isso, cheguei ao Lao PDR, com expectativa baixa. Talvez por conta disso o Laos tenha me surpreendido tanto, começando por Luang Prabang que é uma das cidades mais antigas e a mais charmosa do Laos; foi a primeira que visitamos. Ficamos hospedados numa guest house, entre o rio Mae Kong e o templo Xieng Thong. Ótima localização para assistir a almsgiving cerimony, na qual os monges budistas saem descalços às 6:00 am dos templos e recebem das pessoas locais (e turistas) sticky rice (um tipo de comida). A cerimônia é linda e não diz respeito somente à caridade, mas também a uma forma de por as pessoas em contato com a humildade. Vale à pena acordar cedo e assistir. Além do almsgiving cerimony, há vários pontos turisticos em Luang Prabang: os templos Wat Saen e Wat Sop e Xieng Thong (meu favorito); o monte Phou Si, para ver o por do sol; a cachoeira Kuang Si tem água azul-azul, é geladinha e vale um mergulho; a caverna das mil estátuas do Buddha (a caverna não me pareceu nada demais, mas o caminho até lá é lindo e é feito através de barco). Em geral, entre um ponto turístico e outro, pode-se ir a pé, ou de bicicleta, exceto: a ida à cachoeira (há que se pegar uma mini-van ou tuk-tuk).
Após quatro dias conhecendo a cidade, conversando com os locais e descobrindo mais detalhes históricos sobre o Laos, estávamos apaixonados por Luang Prabang e curiosos para conhecer uma cidade que não havia sido incluída no nosso roteiro. Fizemos os cálculos de tempo de viagem, refizemos os planos e decidimos atravessar as montanhas, numa van, pra visitar Phonesavan. 


A cidade é pequena e não tem qualquer charme visível aos nossos olhos de ocidentais, porém lá se encontram os misteriosos Plains of Jars. Esse local é formado por jarros grandes (maiores que uma pessoa) que guardam um mistério de confecção semelhante ao das pirâmides do Egito. Os arqueólogos e cientistas não conseguiram descobrir de que modo foram feitos os Jars nem para que foram feitos. O lugar é intrigante.   

Phonesavan guarda também em filmes a história secreta do Laos. O que você faria se alguém jogasse pedras na sua casa? O que você faria se alguém jogasse pedras na sua casa durante dez anos? Na década de sessenta, enquanto os olhos do mundo estavam voltados para o movimento hippie e para a guerra do Vietnã, o Laos era bombardeado a cada oito minutos. Essa guerra contra o Laos ficou conhecida como “the secret war”. Ao longo dos anos, constatou-se que 30% das bombas lançadas no Laos não explodiram quando lançadas, e, portanto, continuam ameaçando e prejudicando a população até hoje. 


Há uma organização, www.maginternational.org , que tem feito um trabalho de conscientização, envolvendo crianças e adultos para “limpar” o país e evitar mais amputações e mortes. O que o povo do Laos tem a dizer sobre o passado? Que o passado passou e nosso coração está livre! O povo do Laos tem aprendido a fazer arte com as bombas encontradas e desativadas. Ao andar pela cidade, os olhos atentos podem ver jardineiras feitas de bandas de mísseis, colheres, sustentador de menu, dentre outros enfeites variados. As sessões dos filmes sobre a história do país são gratuitas e o aprendizado torna a cidade inesquecível!
Dois dias de realidade nua e crua para os turistas curiosos foram suficiente para voltarmos à rota inicial rumo à festeira Vang Vieng. Pra evitar o barulho da cidade dos backpackers, buscamos acomodação à margem do rio, a aproximadamente 10 minutos da rua principal, preferida pelos jovens viajantes; assim, estávamos salvos do barulho e rodeados de montanhas acolhedoras. Bicicleta pra lá e pra cá pra visitar uma caverna enorme no meio de uma montanha. O caminho até a montanha valia qualquer sacrifício; e ao chegar no pé da montanha, há um lago azul e gelado perfeito para quem quer se refrescar; e à beira do lago os turistas relaxam e contemplam aquele pedaço de paraíso. Pra conhecer a caverna, um guia local é necessário. 


Em Vang Vieng, também se pode fazer um passeio de balão cedinho da manhã; a vista da cidade é pitoresca, as crianças correm pra acenar; as montanhas parecem querer nos abraçar, e o sorriso não sai da boca. Nunca havia feito passeio de balão e não queria ir... Teria me arrependido se não tivesse feito. Uau! Devo confessar também que não queria fazer o “tubing” (sentar no pneu e descer o rio abaixo, parando de bar em bar), mas fiz e não é que gostei e até fizemos facebook friends!?
Depois de três dias e uma ressaca, partimos para a capital do Laos: Vientiane. Só um dia nos restava, tendo em vista a inclusão da cidade de Phonesavan no roteiro. Por isso, finalizamos a viagem com uma visita rápida a dois templos Wat Si Saket e Haw Pha Kaew, ao “Arc de Triomphe”, e à padaria croissant d’or.
C’est fini, mon amour!   

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Um pouco sobre mim, o Camboja, a Tailândia e um pouquinho de Brasil, Iaiá!

Desde quando cheguei à Australia, ouvi de mim mesma: “aproveita que você está do lado de lá e vai conhecer o Japão e a China.” No entanto, sabe aquela pessoa que está sempre disposta a mudar os planos quando alguém apresenta uma outra possibilidade? Pois é, acho que aquela pessoa mora em mim. Há duas semanas fui à casa de uns amigos e lá conheci uma americana. Convesa vai, conversa vem, ela me diz que precisa sair urgentemente da Austrália, para manter o visto em situação regular (aquele truque: sair pra voltar com carimbo novo); e complementou, afirmando que aproveitaria o ensejo para conhecer a Tailândia e o Camboja, mas que estava buscando uma companhia.

"You’ve just found your girl." Eu respondi.

A partir desse momento, começamos a definir a rota, as cidades e como faríamos para viajar o mais rápido possível. Três dias depois daquela confabulação, estávamos voando para Phnom Penh, a capital do Reino do Camboja, ou Reino Khmer (palavra que denomina a língua e o povo do Camboja). Tudo que eu pude ler sobre o país no curto período antes da viagem só me ajudou a aumentar a curiosidade e o fascínio. Talvez você conheça a história que envolve o Camboja num dos maiores extermínios humanos; eu não conhecia.

O Camboja já foi um império, séculos atrás. Nesse período, foram construídos templos e palácios. Depois do apogeu e da resistência, apesar das invasões de países vizinhos (Tailândia e Vietnã) e guerras com países dito desenvolvidos, veio o golpe de estado, ocorrido na década de 70, com a ascensão do Khmer Rouge, liderado pelo Pol Pot. O resultado foi um genocídio “tão eficaz” que faz qualquer ditadura sul-americana parecer um ensaio do que a nossa maldade é capaz. Alguns livros informam que mais de 1/3 da população foi exterminda e minas explosivas espalhadas pelos recantos do país; até hoje se vê gente decepada, gatos sem patinhas e um aviso preventivo de só andar em locais indicados, quando viajando pelo interior.

Na capital de nome Phnom Penh, dois dos principais pontos turísticos são: killing fields (você pode imaginar) e a security prison (uma ex-escola transformada em prisão e máquida de tortura). Em termos de aparência, a capital é uma mistura de Itaboraí com a era do ouro, pois apesar da pobreza, Phnom Penh conta com palácios, templos e monastérios construídos no apogeu do império; a propósito, palácios e monastérios lindos. Até hoje uma cena recorrente na cidade é o passeio dos monges, em “lençóis” cor laranja.

A outra cidade visitada chama-se Siem Reap. Essa tem um dos templos mais bonitos que conheci, chamado Angkor Wat, dentre outros inúmeros.



Se houver tempo, faça a visita dos templos pelo big round, parando e visitando por mais de um dia; nesse caso, opte pelo tícket de três dias para visitar o Angkor Wat e os templos da redondeza. A cidade de Siem Reap tem uma vibração semelhante à de Buzios, embora não tenha praia; tem um Night Market que relembra a rua das pedras. Lá são oferecidas footmassage, massage, manicure, pedicure e comidas deliciosas a preço irrisório.

Você pode estar se perguntando o que mais tem de bom lá, pois saiba que apesar de tudo que eles passaram, o país está se recuperando de uma forma encantadora. Ao conversar com as pessoas locais, é fácil perceber aquela felicidade ingênua de que o pior já passou e que há uma esperança misturada com a certeza de nós podemos mudar a história.

O turismo está crescendo e aos poucos a cidade se recupera do trágico genocídio. As pessoas querem aprender e melhorar. Fiquei pasma ao me dar conta de que quase todo mundo lá fala inglês; cheguei a pensar que estava na Holanda. Quem sabe o Camboja transforme-se numa nova Holanda? Se você tiver chance de conhecer o Camboja, vá. Pois é possível que em cinco ou dez anos essas cidades cresçam assustadoramente e o encantamento do interior fique escondido em algum canto de difícil acesso; ou que o Camboja vire um grande mercado central, como se parece a Tailândia.

E por falar em Tailândia, fiquei impressionada com o tamanho de Bangkok. Porém apesar do tamanho e da impessoalidade, devo admitir que não senti nenhum temor de violência. Vou me reservar o direito de não falar dos engarrafamentos, pois não quero te desagradar com palavras chulas. Em Bangkok, eu estava me sentindo uma em seis bilhões, até que me reencontrei com uma grande amiga tailandesa, com quem dividi a moradia estudantil na Inglaterra.

A partir desse momento, Bangkok passou de cinza a azulada; ela nos levou aos lugares mais pitorescos, regados de uma comida deliciosa. Em todos os cantos de Bangkok, as ruas ou rios tornam-se mercados. São os weekend market, night market, floating market, China Town, e por aí vai. Thailand is good for shoppers. Não posso deixar de mencionar as variedades de orquídeas (que dá no meio da canela), frutas, comidas e ofertas de massagem; acho que assim como fazemos ginástica, o povo asiático faz massagem.

Na Tailândia assim como no Camboja, a comida tem semelhanças (o curry e o noodle) e é servida com garfo e colher, para que as pessoas dividam os pratos (e não se usa faca). Provei de tudo, com exceção dos insetos fritos. Mas nem tudo são flores: uma cena trise e comum de se ver: homens mais velhos com jovens tailandesas (if you know what I mean). Aparentemente, Bangkok já ultrapassou a linha da sustentabilidade e se aproveita abertamente do mercado informal. Talvez, por isso, tenha um caminho mais longo para alcançar a tão almejada qualidade de vida. Porém não é só de Bangkok que é feito a Taliândia.

Também conheci a ilha de Koh Samui onde foi filmado parte do “a praia”, com Leonard di Capri. É linda, a água quentinha e transparente. É uma Ilha montanhosa e verde, rodeada de hoteis e resorts, porém ao que parece esse paraíso está sendo ameaçado pelo crescimento desordenado. Adorei quase tudo lá, exceto um show de animais, dentre eles, um elephant show, no qual os participantes faziam um cabo de aço com o elefante, para ver quem tinha mais força; o elefante fez tanta força que se urinou. Fiquei com uma saudade do IBAMA. Ao me lembrar de uma viagem à Amazônia (reserva Mamirauá) e à Fernando de Noronha, percebi que o Brasil ainda está se esforçando para seguir a linha da sustentabilidade; e suspirei aliviada!

Se puder, conte qualquer impressão que teve o seu olhar sobre um lugar ou um povo! É uma maneira afordisíaca de aprender.

With love,
One of me.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Dicas e curiosidades sobre a Tailândia

Ao chegar ao aeroporto de Bangkok, antes de se dirigir ao setor de imigração, passe primeiro no Health Bureau e mostre ao funcionário o seu passaporte brasileiro; assim que ele vir, ele vai lhe entregar mais um formulário a ser preenchido e devolvido ali mesmo; em seguida, ele carimba o seu formulário de imigração e você estará pronto para passar pela alfândega. Essa exigência é válida para os latinos americanos, africanos, dentre outros.

A Tailândia é recheada de tradições e contradições. Se você for visitar os templos da Tailândia, lembre-se de se vestir modestamente, cobrindo desde os braços, especialmente os ombros e o colo, até os joelhos; e antes de entrar nos templos, tire os sapatos. As manifestações físicas de afeto e carinho não são bem vistas nem bem-vindas. A esse respeito, é melhor evitar as cenas apaixonadas comuns aos Latin lovers; e sob nenhuma hipótese toque na cabeça de pessoas ou crianças da Tailândia, pois a cabeça, na cultura deles, é considerada a parte mais importante e sagrada do corpo; enquanto os pés é considerada a parte menos limpa, por isso, evite tocar qualquer coisa com os pés. O cumprimento e o agradecimento são feitos por meio de palavras; o gesto aceitável é o unir das palmas das mãos, junto ao tórax e um leve meneio da cabeça para baixo. 

A interação com os locais fica mais aprazível com os cumprimentos em Tailandês:
Oi: “sawadee krup” (o homem deve pronunciar /savadicláp/), enquanto a mulher diz: “sawadee ka” (a pronúncia é /savadicá/.
Obrigado: "khorb koon khrap” (pronúncia: /kopunklap/)
Obrigada: “khorp koon ka" /kopumká/
Os templos da Talilândia impressionam pela riqueza de detalhes e histórias cravadas nas suas paredes. O Grand Palace, em Bangkok, merece uma visita, pelo menos. É um complexo de construções que comporta templos, palácios e a antiga residência dos Reis da Tailândia (o Rei atual mora no Chitralada Palace, por isso, o Grand Palace pode ser visitado).
No complexo do Grand Palace, além dos palácios e templos de arte tailandesa, com pitadas de Srilanka-Ceylonese e khmer style, pode-se ver uma réplica do Angkor Wat (um dos templos mais grandiosos do Camboja), em minhatura. Um dos reis da Tailândia exigiu a construçao da réplica do Angkor Wat, tendo em vista que inúmeros cidadãos da Tailândia não poderiam visitar o real Angkor Wat (objeto de desejo nas guerras entre os países vizinhos).
Outra construção encantadora dentro do Grand Palace são os palácios compostos de porcelana quebrada. Um grande número de porcelanas importadas da China chegaram à Tailândia despedaçadas; o rei, da época, não permitiu que as jogassem fora e pediu que se aproveitassem os pedaços de porcelanas na construção dos palácios. Teria sido esse um dos primeiros casos de reciclagem no mundo? Vale a pena contratar um guia para apreciar esses detalhes. Ao lado do Grand Palace, pode se ir a pé ao Wat Pho, templo onde se visita a estátua enorme do Buda deitado. E a menos de meio hora de táxi ou de ônibus (n.01 em direção a China Town), há o templo do Golden Buddha, em China Town.
Bangkok é tão gigante quanto São Paulo. Porém apesar do tamanho e da impessoalidade, devo admitir que não senti nenhum temor de violência; o que pode assustar é o trânsito. Para evitar engarrafamento, a melhor opção é ficar próximo do Grand Palace, em Bangkok (nos bairros: Koh Sam Road, China Town, ou vizinhança desses bairros).
No norte da Tailândia, Chang Mai, Chang Rai e Pai foram as cidades que visitei.
O que fazer em Chang Mai? Visitar os templos Wat Pho Sighn e Doi Sothep, pelo menos. O Wat Pho Sighn fica dentro do quadrilátero murado da cidade; enquanto o Doi Sothep fica no alto de uma montanha; para visitá-lo, é necessário pegar um taxi ou minivan.
Onde se hospedar em Chang Mai? Dentro do quadrilátero murado ou bem perto dele. Assim, a locomoção será basicamente a pé ou de tuk-tuk, meio de transporte utilizado em alguns países da Ásia. O tuk-tuk é equivalente ao nosso pau de arara e é composto por uma carroceria com lugar para 4 ou 6 pessoas (negociar preço é saudável e preciso). À noite, há o street market e os restaurantes às margens do rio Mekong onde a comida costuma ser deliciosa. De Chang Mai também podem ser feitas excursões (de um dia inteiro, voltando à Chang Mai para dormir) para Chang Rai. Chang Rai fica no extremo norte da Tailândia, fazendo fronteira com Burma e Laos. Por isso, a região de Chang Rai também é conhecida como Golden Triangle.

Em Chang Rai, o White Temple tem o poder de quebrar o paradigma da beleza dos templos dourados, pois, como o próprio nome diz, ele é todo branco, mas contém todos os detalhes dos templos antigos, reservando ainda, aos turistas mais atentos, surpresas inimagináveis num templo tailandês. Ao olhar o templo branco de frente pode-se ver um lago de mãos perdidas que relembra o mito de Orfeu e Euridice; pode parecer triste num primeiro momento, porém prestando um pouco de atenção, podem ser vistos microfones, dentre outros apetrechos no suposto lago; o que dar à entrada do templo um ar lúdico. O White Temple é fruto do trabalho de um artista da região, que decidiu presentear a cidade com a sua arte.
Próximo à Chiang Rai, pode-se visitar as hill tribes; tribos compostas por pessoas, que vivem da subsistência de seus produtos. Por ser um povo que não cedeu às imposições sociais, seja pelas suas características físicas (anéis no pescoço), culturais ou de crença. Essas tribos, em sua maioria, não tem direito à cidadania, pois os seus componentes são considerados “aliens” pelos governos dos países onde vivem ou passam. Há pessoas que criticam esse tipo de visita, sob a alegação de que o turista está buscando o exotismo não só nos lugares mas também nas pessoas. Culture shocks and we all go for it. Don’t we? Honestamente, isso se aproxima da verdade, mas não há outra maneira de o turista ajudar essas pessoas senão indo lá e comprando os produtos manuais das hill tribes. O objetivo aqui não é criar polêmicas, mas sim permitir à leitora um pouco de informação sobre um pedacinho da Tailândia.
Outra cidade do norte Tailandês visitada foi Pai. Vale ressaltar que não há caminho de Chang Rai para Pai, portanto, é necessário voltar à Chang Mai e, a partir daí, passar por 762 curvas em zig-zag até chegar à Pai. "Tudo vale a pena, se a alma não é pequena"(F. Pessoa).
Pai merece um parágrafo à parte, pois é a Visconde de Mauá da Tailândia. Uma cidade onde o objetivo principal é o deleite. Onde se hospedar? No centro da cidade, para se locomover melhor e livremente; evitar pousadas longe do centro. O que fazer? Massagem, templo no alto da montanha, cachoeira, hot spring (não só pra ver, mas disponível para o banho: relaxante ao extremo, cuidado para não dormir) e um incrível banho com elefante; pra quem curte natureza e animais ao pé da letra, é extasiante brincar de perto e tomar um banho no rio com um elefante. Onde? Noi’s Elephant Camp.
No sul da Tailândia, visitei somente uma ilha: Koh Samui. 

Água do mar na temperatura ideal, quentinha e transparente. Onde ficar? Em uma pousada (tem de todos os preços) em frente à praia. A ilha é grande, por isso, é bastante proveitoso fazer um trekking para conhecer os arredores e quiça outras ilhas próximas (por favor, evite os trekkings que incluem brincadeiras com animais: monkey show, elephant show etc). Dizem que também é linda a Phi Phi island. Go figure and tell us!
Em todos os cantos da Tailândia, as ruas, calçadas e até rios tornam-se mercados. São os weekend market, night market, floating market, China Town, e por aí vai. Thailand is good for shoppers. Não posso deixar de mencionar as variedades de orquídeas, frutas, comidas (Kao soi: noodles com galinha, de-lí-cia) e ofertas de massagem a céu aberto, ou numa sala fechada. Até o mais estressados dos mortais relaxa!
Mas nem só de tradição e flores é feita a Tailândia. Para contradizer o protocolo exigido na visita dos templos, cenas comuns de se ver: homens mais velhos com jovens (bem jonvens) tailandesas (if you know what I mean), exibindo o seu lado macho-man; ou transeuntes na rua, oferecendo os mais exóticos tipos de show (especialmente aqueles que usam a mulher como objeto de diversão).
Ops, um detalhe: seja paciente, confie nos seus instintos and wherever you go girl, keep always a napkin with you, because in most Thai toilets, there is no paper.
With love,
A foreigner pedestrian


Outros artigos sobre o Sudeste Asiático:
O discreto Laos
Camboja em duas duas cidades

sábado, 15 de janeiro de 2011

Buenos Aires, sob encomenda

Antes de começar a escrever sobre Buenos Aires, gostaria de dar uma explicação aos meus leitores (apesar de não parecer, tenho inúmeros leitores! Devo admitir que a grande maioria deles reside no meu imaginário gregoriano). Estou escrevendo sobre Buenos Aires, porque uma recém amiga pediu-me, ou melhor, ordenou-me. Sabe aquela pessoa que nasceu pra ser chefe? Mal me conheceu e foi logo dizendo: escreva sobre Bue-nos Ai-res! Como gosto de escrever e adoro Buenos Aires, ela me cativou com o seu pedido-ordem. Vamos ao que interessa: direto de “otros aires” para "mi Buenos Aires querida".

Chegando ao aeroporto de Ezeiza em BsAs, saque dinheiro do caixa eletrônico ou compre pesos de lojas de câmbio oficiais, pra evitar pegar uma nota falsa por aí; pegue um taxi oficial (de preferência pague adiantado no guichê do aeroporto e pegue o recibo). Converse com o taxista e peça o cartão dele (tarjeta, em espanhol), pois assim você poderá negociar e retornar ao aeroporto por um preço mais em conta. Em geral, esses táxis pertencem a uma cooperativa, pegue o cartão e ligue quando precisar, e evite pegar táxi de rua.

Buenos Aires é uma cidade grande, e talvez pelas crises econômicas que tenha sofrido, deixou de ser tão segura como era antigamente (antes das crises). Chegando ao seu hotel/hostel, deixe as malas e vá bater perna. Buenos Aires foi feita para se andar! Se precisa de um mapa para orientação, compre o “Guia-T” nas bancas de revista; é barato e vale à pena. O sistema de ônibus e metrô leva o turista para os principais pontos da cidade. Por isso, utilize-o, mas lembre-se de vigiar a sua bolsa. Nunca vivenciei perigos em Buenos Aires, porém conheço amigos que passaram por situações desagradáveis de furtos. No mais, confie nos seus instintos e seja assertiva. Feito esse aleta, vamos ao que te levou querer conhecer a cidade com estilo europeu, em plena América Latina.


O que fazer? Onde comer? Night? Arte? E o apaixonante tango?

Há inúmeros restaurantes bons em BsAs, porém se é a sua primeira vez na cidade, vale a pena conhecer e almoçar num restaurante tradicional: Café Tortoni. Chegue cedo para o almoço e aguarde na fila.

Para caminhar (e comprar se quiser): calle Florida, palermo viejo, palermo chico, palermo soho, recoleta e la Boca (onde tem tango na rua, cachecol baratinho e turistas).

Para jantar e sair à noite: Puerto Madero e palermo soho; restaurante Bere Bere, na calle Armenia.

Para adocicar e se refrescar: sorveterias Volta, Pérsico e Fredo.

Para tomar um café e comer “media luna” (croissant): confitería Ideal e confitería las violetas.

Para ler, tomar café e se impressionar: livraria El Ateneu. Há inúmeras livrarias em BsAs, porém a El Ateneu merece uma visita demorada.

Museus imperdíveis: Malba e Bellas Artes. Obs: às quartas-feira, a entrada costuma ser gratuita no Malba.

Para conhecer, almoçar e comprar antiguidade (se quiser): feira de Santelmo (domingo).

Shows: “te mataré Ramires” e um de tango (na confitería ideal, às vezes, tem show e aulas, porém é voltado para o pessoal que dança tango). Se quiser algo mais turístico, busque um tango show.

E se precisar de algum incentivo para aprender tango, por favor, leia o texto 7 bons motivos para se aprender tango.

Línguas! Nós os entendemos melhor do que eles (os argentinos ou espanhóis) nos entendem. Não é má vontade. Segundo uma professora de língua espanhola/castelhana, a língua espanhola é mais “pobre” em fonética do que a língua portuguesa; por isso, temos mais facilidade para entender. Reza a lenda que é melhor falar “portunhol” do que mesclar inglês com espanhol, pois certa vez um turista anglo-saxão resolveu mesclar inglês com espanhol, e veja no que deu:

- Tiene coffee? Perguntou o rapaz ao garçom.
O garçom entendeu “ten coffee” e trouxe 10 cafezinhos.

Pra evitar esse tipo de situação, leia o menu, diga por favor e peça em espanhol/castelhano, lembrando que em castelhando o som do “ll” é como “jê”. Por exemplo: calle se pronuncia “cajê”; e o “r” é forte, e se pronuncia como na palavra caráter.

Boa viagem e aproveite tudo mais que você descobrir por lá!

Muchas gracias.


quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

7 bons motivos para aprender a dançar tango

Antes de entregar de mão beijada os sete motivos, que poderão mudar a sua vida, é necessário fazer uma breve explicação sobre a escolha de formato"evergreen" (denominação americana) para o estilo do texto abaixo. Essa escolha deve-se ao fato de estar em voga no mundo virtual prescrever soluções rápidas, prometendo descobertas fantásticas.

Ao que parece esse tipo de proposta surgiu por consequência da escassez do tempo, devido o aumento da sua própria velocidade. Foi-se a época que o dia tinha 24 horas; o mês, 30 dias; e o ano, 12 meses. Segundo estatísticas de fonte não declarada, um dia dura, em média, de 3 a 6 horas, exceto as segundas-feira, que continuam tendo, pelo menos, 8 horas de trabalho. Talvez isso explique o sucesso dos resumos, da pesquisa google, da informação pontual e do raciocínio pronto; não precisa aquecer nada no forno para se expressar, basta meia dúzia de palavras já largamente divulgada na fonte virtual de pesquisa mais conhecida, e um pouco de azeite, para que um comensal compartilhe o seu fast food de receitas.

Ainda a respeito do formato “evergreen”, há uma outra corrente de pesquisa que assegura que essa cartola de informações e raciocínios cozidos, a ponto de serem devorados, faz parte de uma conspiração dos países desenvolvidos para que os países emergentes não cheguem lá. Há de tudo na internet. Há inclusive quem se utilize de bravatas, para se passar por intelectual, e se imbuia da missão de convencer as pessoas, em sete notas, a dançarem tango. A que ponto chegamos. Você e eu? A alguns passos de dançar juntinhos. Sem tensão. Respira devagar. Quando você menos esperar já vai estar dançando há anos.
Há inúmeras razões para se dançar tango, porém segue abaixo um conjunto de sete para que você tenha tempo de ler:

1) Com o tango, você poderá exercitar (com mais frequência) o senso de equilíbrio; além de melhorar a postura;

2) Aprendendo a dançar tango, você vai compreender o que não é dito, pois você vai escutar melhor o seu corpo e o(a) do(a) parceira (soa piegas, porém é o que acontece);

3) É uma forma de aprender (ou descobrir) que a sensualidade não tem padrão de beleza, marca registrada, raça, classe social, idade, ou coisa que o valha;

4) É uma maneira agradável de conhecer pessoas. E os "tangueros" (as pessoas que dançam tango) formam uma “irmandade”, facilitando a participação do(a) novato(a), e ajudando os já ingressados nessa arte;

5) Você pode dançar tango, praticamente, no mundo inteiro. Antes de viajar, ou já no novo destino, você pode buscar na internet os lugares para se dançar tango. Vai encontrar diversão, de um jeito ou de outro;

6) Você pode interagir melhor com as pessoas dos lugares por onde você viaja;

7) É uma forma lúdica de autoconhecimento;

E se você não liga pra nenhum dos motivos acima, aprenda a dançar tango por puro prazer, diletantismo, ou farra!


Talvez interesse:

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Lá e Cá

Estamos vendo pela TV cenas horríveis causadas pelas chuvas. Uma tragédia anunciada, que poderia atingir ou ultrapassar os prejuízos sofridos pela última enchente. Os especialistas declararam que as forças da natureza deixariam no mínimo três cidades em estado de emergência, devido ao número de casas e comércios inundados. As tragédias anteriores e essas previsões foram suficientes para o governo local, estadual e federal unirem todos os esforços e traçarem um plano de prevenção.


O plano englobou centros de evacuação para abrigarem as pessoas que tiverem que deixar as suas casas; arrecadação de comida, dinheiro, roupas e remédios. O plano contava com a ajuda de inúmeros voluntários e doações. O governo conseguiu arrecadar 30 milhões doados pela população; a associação de supermercados e de farmácias doaram alimentos e remédios. Os voluntários doaram roupas e trabalho. Tudo preparado para o pior que pudesse acontecer.


Quando as nuvens começaram a avançar em direção àquelas cidades alertadas sobre o risco que corriam, a grande maioria dos moradores aceitou deixar as suas casas e fecharem os seus comércios. A televisão divulgou imagens de pessoas carregando os seus pertences essenciais e partindo; juntamente com os demais vizinhos da comunidade, o ministro das relações exteriores foi visto com as calças suspensas até o joelho e malinha na cabeça, pois a água já começava a atingir proporções desconfortáveis. Aqueles que não tinham para onde ir, abrigaram-se nos centros de evacuação. Apesar do olhar apreensivo de todos, o senso de comunidade permanecia inabalável. O comentário padrão era: ajude um vizinho, um amigo, ou um estranho.


Conforme previsto pelos especialistas, devido às chuvas, o nível do rio atingiu 4,2 metros, o que foi suficiente para alagar 115 mil casas e comércios, área equivalente à metade da Europa, e transformar o lugar mais atingido numa cidade fantasma. Apesar de todo o esforço, 16 pessoas morreram. O país inteiro está inconsolável por esse infortúnio.


Gostaria de estar descrevendo sobre a atuação preventiva em caso de inundações no estado do Rio de Janeiro, porém o texto acima refere-se à enchente ocorrida, nesses dias, no estado de Queensland, na Austrália.


Quanto às inundações ocorridas no Rio, coincidentemente no mesmo período, não houve elaboração de um plano preventivo. Por isso, a população contou apenas com o trabalho emergencial dos bombeiros e voluntários. Apesar de todo o esforço, o caos visto em Niterói, no ano passado, repetiu-se em outras cidades, infelizmente; e o número de pessoas mortas é estarrecedor: 647. Diante da tragédia ocorrida, o governo federal comprometeu-se a doar R$780 milhões; e o estadual anunciou obras. Os cidadãos registraram através dos meios de comunicação os seus comentários, demonstrando um sentimento de injustiça e indignação contra as autoridades.


É quase inevitável a comparação e, portanto, alguns questionamentos: o cidadão australiano vale mais para o seu governo do que nós valemos para o nosso? Ou nós valemos para o nosso governo tanto quanto ele vale para nós? Ou ainda: será que o nosso senso de comunidade está tão aquém que nos preocupamos mais em registrar comentários contra os supostos responsáveis do que por quem foi atingido?


Não pretendo ser um paladino de reflexões, porém gostaria muito que isso te incomodasse, porque um dos piores cenários começa com o discurso do “isso acontece todo ano e eles (do governo) não fazem nada”.


Com a certeza de que podemos fazer melhor,


Um pedaço de nós.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Nós e Eles

Estão perguntando o que está acontecendo no Rio. Devemos responder categoricamente que estamos limpando a cidade. Os que fazem “coisas erradas” estão sendo tradados como merecem e que se eles forem mortos, não haverá mais problema no Rio. Pois o Rio é feito de cidadãos descentes como nós, e eles, que não valem nada.

Os traficantes, os políticos, os corruptos são completamente diferentes de nós. Alguém perguntou se nós temos qualquer relação com eles. Como de costume, sejamos honestos: não! Se nós conhecemos drogas? Nós nunca fumamos nem conhecemos amigos que fumam ou fumaram um baseado, sequer. Prostitutas, homossexuais, ou qualquer outro grupo de minoria, respeitamos como respeitamos aos nossos irmãos. Não existe essa de ofender o outro, só porque não gosta do sexo oposto. Nós estamos fazendo tudo certo. Nunca falsificamos nada. Não deixamos lixo na praia. Furar fila? Tá maluco?! Comprar muamba, ou produtos falsificados? Nem pensar. Nós não estacionamos em lugares proibidos. Nas calçadas? Nós as deixamos livres para permitir que as mães com os carrinhos de bebê ou os cadeirantes possam transitar. Acostamento? Fala sério! Dinheirinho pro guarda? Você não sabe com quem está falando. Se o garçon trouxer uma conta errada, nós somos os primeiros a informar e a pedir para corrigir. Não aceitamos tirar vantagem. Tratamos super bem os nossos empregados domésticos; não é porque estão sendo pagos pra nos servir que os trataremos como pessoas inferiores. Nós não admitimos isso. Participamos ativamente da construção de uma sociedade melhor; agora vêm eles e querem acabar com a nossa cidade maravilhosa? Todo mundo pro paredão! Se as famílias deles vão sofrer? Não têm nem famílias esses infelizes. E se eles têm, quem mandou criar bandido? Eles tiveram tantas oportunidades quanto nós. Por isso, nós não podemos ser comparados a eles. Se isso gera mais violência? Se os parentes que ficam deles vão se revoltar e gerar mais violência no futuro? Nós somos o país do futuro, esqueceu? De toda forma, paredão pra eles também. Qual é o critério? Ora, o que eles fazem! Não vem com discurso de human rights porque não cola. Foi com tolerância zero que os Estados Unidos acabaram com o terrorismo: tacaram bombas no Iraque e no Afeganistão. Não foi? Eles pensaram em human rights? Não. Por que nós temos que pensar? Para quem está de fora, é fácil falar. Queria ver se estivesse aqui, passando pelo que nós estamos passando.

Saiba que nós só não somos considerados primeiro mundo por causa deles. A prova disso é que quando nós fazemos algo errado, é diferente; é mais aceitável pela sociedade. Não são os absurdos que eles fazem. Quem somos nós? E quem são eles? Você ainda não sabe com quem está falando.

O coletivo só muda se cada um iniciar a sua própria mudança.

With care,
One of us who wants to be the change that I want to see in the world.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Ele está no meio de nós

Por favor, não se iluda com o título do texto. Não pretendo falar de espiritualidade nem religião. Se a ótica fosse espiritual, talvez a minha questão pudesse ser considerada até mesmo demoníaca. Se fosse o caso, pretenderia conseguir a minha redenção, dando “a cara a tapa”. Feito esse introito, exponho o que me aflige.
Algumas pessoas sabem que eu pretendo escrever um livro; outras sabem que já comecei; e as amigas bem próximas sabem que eu de fato escrevi. Logo que finalizei o livro, ou melhor, achei que tinha finalizado o livro, estava ansiosa para enviá-lo a uma editora. Porém antes disso, pedi a uma amiga, que acompanhou de perto boa parte dos capítulos, que lesse o livro. Uma semana depois, ela me veio com um relatório, bem elaborado, e uma série de observações. Tudo que ela reportava era recheado de consistência. Olhando hoje, friamente, o relatório estava infinitamente melhor que o livro. Mas os meus olhos não estavam prontos pra enxergar, apesar de ter visto beleza naquelas informações, que explicavam inclusive o racioncínio da história, algo que eu não tinha parado para elaborar. Aconteceu naturalmente, acho. Entretanto, segundo a minha amiga, que expressou a sua opinião sem qualquer formalidade, como fazem aquelas pessoas que nos estimam respeito e sabem que podem dizer o que pensam: “o mote é atual, você conseguiu desenvolver bem até aqui; a partir daqui (ela apontou um capítulo), você viajou na maionese”.
Não me abalei. Eu estava tão “segura” do que tinha feito que não dei ouvidos ao que ela dizia. Eu escrevi segura entre aspas, porque me dei conta de que eu não estava segura; eu estava orgulhosa, cega e surda, achando que tinha escrito um best seller. Uma voz dentro de mim dizia em alto e bom som que tudo estava o máximo e que a minha amiga não havia compreendido o modo anticonvencional que eu havia usado para passar a mensagem. Um parêntese agora sobre algo que pretendo deixar claro: eu não via sob a ótica dela, porque não conseguia. Outro detalhe essencial: essas opiniões enaltecedoras sobre o livro não eram minhas, eram da voz e do orgulho, que estavam me parasitando. Sei que soa contraditório, mas não era eu. Se você tem essa voz dentro de você, tome ciência do seu monstro, porque ele cega, ensurdece, e dizem por aí, que ele é capaz de matar.
O mais irônico de tudo isso é que a voz, à qual acabei de me referi, é personagem do livro. A propósito, minha amiga e eu lemos alguns livros a repeito dessa voz e discutimos inúmeras vezes sobre esse personagem, que parece intrínseco não só às outras personagens como a nós mesmas. E quando nos demos conta disso, estávamos em êxtase, porque de algum modo nos sentíamos mais livres. Em razão dessas conversas, lhes demo um nome; a voz passou a ter o nome de Gregório.
Eu cheguei ao ápice da arrogância, achando que estava imune àquela voz; e a minha amiga, não sei se consciente ou não, desistiu de repetir o discurso de que eu estava no mundo da lua. Nesse meio tempo, finalizei o livro. Foi justo nesse ínterim que o Gregório, usando das suas artimanhas, tratou de me presentear com um véu; e aos pouquinhos soprava no meu ouvido: “que livro, hein?! Só você mesmo pra escrevê-lo”, me convencendo de que eu deveria enviar o tal livro a uma editora, sem mesmo pedir opinião da minha amiga-editora.
O que ninguém sabe ainda é que eu apresentei o livro a uma editora; e ele foi rejeitado. Não preciso enfatizar o quanto o Gregório ficou em frangalhos; ele não conseguia ver os próprios erros. Quanto a mim, fiquei sem palavras, diante da armadilha do Greg, e fiz o que qualquer pessoa em sã consciência faria: liguei pra um anjo que, como se soubesse do que houve, disse o seguinte: “minha filha, é porque não está pronto; largue de besteira e não vá escutar voz(inha) por aí, dizendo que esse negócio tá bom, não. Vá escrever”.
Minha amiga, pra você que me perguntou o que havia acontecido pra eu ter tido o insight de reescrever o livro, aconteceu como descrito acima. Eu me explico bem? Já estou reescrevendo. Obrigada por você existir. E por que não enviei essa mensagem só pra você? Porque queria expor o meu Gregório ao máximo de ridículo, para ver se ele cria vergonha e me dá uma trégua. Ou seria ele já atuando e dizendo: mostra o quanto você é humilde? Vai saber!? Só sei que ele está no meio de nós.
Com ciência do Gregório,

Eu, ou talvez menos eu, ou mais eu.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Coisas de Gringo

Todo sujeito que está fora do seu país de origem é considerado gringo. Aqui o gringo sou eu; e todo gringo que se preze passa vergonha. Comigo não foi diferente. Sabe aquelas histórias que se passam com a gente, mas na hora de contar, a gente fala que aconteceu com uma amiga nossa? Pois é. O que eu vou narrar agora aconteceu com a minha amiga, porém pra facilitar, vou narrar em primeira pessoa; só pra facilitar.

Dentre as modas de Melbourne, está em voga vestir calça legging preta e usar um coque no topo da cabeça. Eu não via a hora de começar a usar o que está na moda “down under” pra me sentir uma autêntica piauí-aussie. Com esse objetivo, liguei pra Maggy, minha amiga australiana.

- Maggy, preciso da sua ajuda. Quero conversar.

- I am all ears!

- Tem que ser pessoalmente. Vamos tomar um café, aqui perto?

- I will be at the Vittoria café in 15 minutes. See you.

Maggy é uma autêntica aussie: moderna, vai ao trabalho de bike, faz protesto, apoia o equal pay, os green jobs, usa calça legging e um coque no topo da cabeça. Logo que nos conhecemos, revelamos a nossa idade. Eu, almost Miss 40, e ela, almost Misses Wolf. A partir daí, sabíamos que não teríamos mais que esconder segredos uma da outra.

No café, eu falei:

- Maggy, há duas coisas que eu tenho muita vontade de fazer: eu quero me sentir mais local, eu quero usar uma calça legging e ...

Antes de continuar com a segunda informação, a Maggy me interrompeu, dizendo que também queria me contar uma coisa que ela tinha muita vontade de fazer, mas não sabia como. Ela disse que tinha vontade de escrever alguma coisa meio pornô atrás da porta do toilet feminino, como uma adolescente, mas não sabia o que. Nesse momento, Maggy deu-se conta de que havia me interrompido. Por isso, desculpou-se:

- I’m sorry. Please, carry on.

Na hora de continuar, eu me dei conta de que não sabia como dizer coque de cabelo em inglês. Então, rapidamente pensei que podia ser um cognato: cock, que significa galo. Pensei: dever ser isso: aquele montinho na cabeça parece um galo; era só falar o final da palavra mais suave. Feito esse raciocínio, traduzi a minha segunda vontade:

- Maggy, I want to use a cock on the top of my head.

A Maggy caiu numa gargalhada daquelas de perder o fôlego. Passados uns 10 minutos, ela me disse que cock significava literalmente galo, porém numa linguagem metafórica equivalia ao órgão masculino.

Então, pra ela, a minha tradução ficou: eu quero usar um pinto no topo da minha cabeça. Quando entendi, eu caí na gargalhada. Passados uns 15 minutos, eu me refiz e disse que era a vez dela de me contar o que imaginava escrever atrás da porta do banheiro feminino.

- I think I should write what you’ve just said about a “cock” and head.

E nós duas caimos na gargalhada. Depois de pararmos de rir e tomarmos o café, fomos a uma loja comprar a minha calça legging. Como eu não quis experimentar, compramos o tamanho g. Minutos depois, resolvi vestir, fiquei mais parecida com a “Dine é um gênio” do que com uma autêntica aussie.

Entretanto, para me animar, Maggy disse: tenho certeza que no dia que você vestir essa calça algo muito engraçado vai acontecer. Palavras de Maggy. Não deu outra. E o evento resultou num novo episódio, que poderá ser chamado de: coisas de uma matuta no estrangeiro.

Coisas de uma matuta no estrangeiro
Após ter comprado a minha calça legging, voltei pra casa, vesti, fiz um coque no topo da cabeça, e fiquei diante do espelho, repetindo o que sugerem os livros de autoajuda: você é muito legal, muito linda, todo mundo te ama etc.

Depois de cinco minutos, o meu namorado chegou. Fiquei muito envergonhada. Ele não entendeu nada.

- Está tudo bem? Perguntou.

- Tá, ué? Não notou nada? Perguntei.

- Notei. Mas prefiro o seu cabelo solto.

- Está com ciúmes, porque eu estou mostrando a nuca. Só pode ser. Eu pensei, sem falar nada (sabe aquelas coisas que a gente pensa e sabe que é melhor não falar, pra não humilhar a pessoa? E virar uma briga? Segui a minha intuição e fiquei quieta).

- O que você quer fazer hoje? Ele me perguntou; (e eu senti que ele estava querendo me impedir de sair, mas eu já estava com a cabeça feita, literalmente).

- Eu tenho que ir à biblioteca, pegar um livro que deixei reservado. Respondi.

- Tem quer ser hoje? Ele insistiu (eu já estava começando a me irritar, mas senti o efeito do meu trabalho de autoajuda e percebi que nada ia me abalar).

- Vou lá e volto, em duas horas. Não posso tirar o livro de lá.

- Duas horas? E você vai assim?

- Vou. Respondi. (Nem me abalei. Aquele exercício de autoajuda no espelho foi revigorante).

Saí de casa, passei pelo porteiro, que nem me reconheceu, porque o cabelo estava todo preso no topo da cabeça; e fui à biblioteca. Lá sentei onde de costume, liguei o meu computador, pluguei o fone de ouvido e coloquei a música love tango do Nasekomix, no último volume. E pela primeira vez achei o volume baixo; queria ouvir mais a música do que meus pensamentos.

Eu estava me achando e me sentindo! Todos me olhavam! Eu fiquei impressionada com o efeito do “cock” no topo da cabeça. Um minuto depois desse frenesi, um rapaz veio em minha direção. Eu me perguntei silenciosamente: “minha nossa, será que ele vem falar comigo”. Pois veio. E ele pediu para eu plugar o fone no lugar certo, pois a biblioteca interia estava ouvindo a minha música, que era muito bonita, mas não era apropriada para ocasião.

Fiquei vermelha de vergonha. Pedi desculpas. E ele disse: no worries, como de costume local. Mas não adiantou, eu não conseguia mais me concentrar. O efeito da autoajuda já havia passado. Arrumei minhas coisas e peguei o bondinho na direção de casa.

Entrei no bondinho lotado, só tinha uma cadeira sobrando: sentei na hora. Depois que sentei, percebi que o rapaz, que sentava ao meu lado, estava muito suado. Em seguida, ele falou:

- Will you marry me?

Eu fiquei atônita e lisonjeada, mas não falei nada compreensível. Only mumbled alguma coisa que nem eu mesma ouvi. Mas ele continuou:

- Please, answer.

Então, não tive saída. Pensei. E disse baixinho e com vergonha daquela situação insólita:

- I can’t, because I love my boyfriend. But I’m flattered.

Nesse momento, percebi que ele estava falando com fone de ouvido do ipod. E ele percebeu que eu estava achando que ele falava comigo. Por isso, ele respondeu:

- I am sorry, lady. I am not talking to you; I am talking on the phone. By the way, you said: you farted, did you? (e tampou o nariz).

Quando eu ia explicar que eu disse flattered (lisonjeada) e não farted (verbo do pum), o bondinho inteiro já estava rindo. Fiquei com uma vergonha. Foi a gota d'água. Desci do bonde e fui o resto do caminho a pé; e deixei o cabelo solto. Quando cheguei e contei para o meu namorado, ele segurou o riso até me convencer de que rir era bom pra passar a vergonha. Estou rindo até agora; ria você também. Foi pra isso que eu escrevi essa história.

With a good laugh,
Minha amiga.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Modos e modas em Melbourne

Seguindo a linha do Joao Ubaldo e já adaptando, escrevo as impressões de uma brasileira em Melbourne.

Os australianos são tao simpáticos que, logo no início, fiquei com dúvida se eles/elas estavam simplismente sendo legais, ou se estavam paquerando. Porém rapidamente me dei conta de que é fácil fazer o contato inicial, mas conseguir fisgar um amigo é outra história. Ou seja, conseguir o número ou o facebook de alguém para se comunicar leva um tempo. É quase um namoro. Aos poucos, estou fazendo a minha panelinha de aussies (palavra usada para denomiar o australiano da gema).

Aqui é moda usar iphone, comunicar-se através do facebook e text messages. Os aparatos tecnológicos fazem parte do cotidiano da cidade. Ninguém sai de casa sem o seu iphone. A máxima o mundo é plano tem validade entre eles. No entanto, às vezes, chego a pensar que o povo daqui quer colocar o globo num banheirinho, pra todo o mundo fazer contato tecnológico. Logo que cheguei e falei que não tinha facebook, pensei que seria barrada na alfândega. Mas tudo correu bem e eu entrei no facebook, devido a uma pressão social e, ao mesmo tempo, me sentindo tirando o título de eleitor.

O quesito tecnológico é tão forte que o governo semanalmente se pronuncia sobre a execução de uma broadband mais arrojada. Acho que eles querem wifi na veia. O governo também se pronuncia frequentemente sobre o sexting, mensagens que os adolescentes enviam uns aos outros com fotos de peitinho, bundinha e coisa o valha. E isso tem gerado uma discussao enorme, o que não é pra menos, considerando que a internet atrai todos os tipos de gostos, ideias e possibilidades.

Por falar em jovens, todos aqui pregam a liberdade de ir e vir como quiserem. Portanto, as mulheres exigem serem tratadas com respeito independentemente do modo como estao vestidas. É proibido o uso da frase “if she is wearing like this, she is asking for that”. As mulheres têm o direito de dizer não, em qualquer circunstância. Ao que parece, em algum momento, houve um certo número de “assaults against girls” e ao serem interrogados os jovens disseram que elas foram até muito longe e não era justo que elas mudassem de ideia. Aliado a esse contexto tem o alcool. Os jovens aqui bebem muito. Quase ninguém dança antes de estar bêbado. Em resposta aos "assaults", tem sido feito um trabalho pela liberdade e pela dismistificação do esteriótipo. Girls have the right to say no anytime. Melbourne é uma cidade de girl power, protests and liberation.

Toda semana, às sexta-feiras, há protestos ou manifestação na cidade; os gays querem o reconhecimento do direito de casar; as mulheres querem liberdade e o equal pay; os casais querem que seja estabelecido um prazo de validade para o casamento, evitando o processo de divórcio; outros se preocupam com os refugiados, os aborígenes, o preconceito, e por aí vai.

Ter preconceito é um ato criminoso, quase um tabu. Os australianos querem construir uma comunidade aberta na qual qualquer um possa existir à sua maneira. Isso não quer dizer que não haja preconceito, mas se você tem preconceito, trate de esconder, caso contrário, você não vai convidado a interagir com a galera do toilet.

Melbourne investe para ser uma cidade onde a confiança e o respeito às leis reinem como padrão. Um bom exemplo é o uso dos transportes públicos, que são livres de fiscalização diária. Eventualmente, um fiscal entra e pede os tickets. Ou seja, vigora a confiança até que se prove o contrário. Além disso, é comum se usar o transporte público para se ir a uma festa. Durante os finais de semana, é comum ver as pessaos arrumadíssimas se locomovendo de bondinho, ainda que de baixo de chuva. Imagino que a lei seca local também colabore para esse cenário.

Os pontos fracos de Melbourne coincidem com os de outras cidades do mundo e dizem respeito às empresas de telefonia, o humor no ir e vir do trabalho, no elevador, no trânsito e nos bancos. As empresas de telefonia também fazem o uso e abuso da "URA"; o humor no transporte público no caminho do trabalho retrata uma certa melancolia; e o sentimento dentre os usuários no elevador é de constrangimento. E se alguém comete uma infração no trânsito, leva uma buzinada. Bank sucks everywhere in the world.

No mais, Melbourne é encantadora.

That is all folks.

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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Melbourne/Austrália - a primeira impressão

Três dias separam os nossos continentes... Saimos do Rio domingo por volta de 14:00, passando por São Paulo até chegarmos ao Chile à noite; deixamos o Chile por voltade 23:00 do domingo; chegamos à Nova Zelândia terça-feira. Eu disse terça! A segunda-feira nos foi perdida entre os oceanos Índico e Pacífico; ou nós sumimos do mundo por 24 horas com o tempo oscilando entre uma invenção e uma ilusão, acho. Que viagem! Vamos ao que interessa. Afinal você quer mesmo saber as nossas impressões sobre a nossa cidade-destino. Nossos óculos ainda estão novos. Talvez, por isso, a visão abaixo possa parecer onírica.

Depois de dois dias vividos e um clandestino, finalmente pousamos em Melbourne. A cidade é completamente inclusiva; as calçadas são projetadas para que qualquer pessoa possa caminhar e atravessar, sem qualquer preocupação; tem gente e restaurantes de todos os mundos (mas devemos ressaltar que os asiáticos estão se esforçando para dominar universalmente).

O sistema de transporte é composto de bicicletas, tram (bondinho), ônibus e trem. A biblioteca pública fica aberta de segunda à segunda e tem internet grátis (basta trazer o computador de casa; ou pra quem nao traz o computador usa o computador da biblioteca); nem precisa dizer que passo o dia na State Library of Victoria. A cidade borbulha cultura e arte. A preocupaçao aqui é proporcionar visões culturais para todos os gostos. Melbourne tem uma arquitetura bem moderna (a especulação imobiliária já chegou aqui), com alguns prédios antigos bem conservados.

Os australianos são feitos de massa italiana, fostato inglês e uma simpatia que eu só tinha visto no Brasil. Pela primeira vez observei que a nossa alegria também existe em outro lugar; para quem pensou que éramos os únicos: ledo engano. As pessoas estão disponíveis, conversam, querem saber como estamos, interagem (mas como os cariocas também não dão o telefone nem o endereço, ou seja, fazer contato é fácil, mantê-lo é uma outra história que ainda não descobrimos, mas vamos pagar pra vê-la). Pelos livros e jornais, é possível perceber que há uma parcela das mulheres que aposta na autonomia feminina (objetivando convocar uma cultura de respeito à mulher como ser humano, independentemente se ela corresponde com as expectativas da sociedade: roupas, formas de comportamentos, linguagem etc).

Em suma, no stereotype down under.

That´s all folks!

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