terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Cena de filme


Honey, bring Senna, - a senhora pediu ao marido, após ouvir que éramos brasileiros; em seguida, ela se permitiu chorar feito uma criança.

Estávamos num acampamento próximo à cidade de Parkes, onde, mais tarde,  visitamos o telescópio, que foi usado na transmissão de dados na operação Apollo 11, e que ficou conhecido pelo filme "The dish" (o prato). Parkes é uma daquelas cidades que ficou famosa pelo "prato" do filme, e usou isso como fonte de recurso turístico; é uma espécie de cidade Pisa da Austrália. Todos que passam por lá querem tirar uma foto com o "astro" cinematográfico. 

Ao andarmos pela cidade, antes de localizarmos "o prato", fomos surpreendidos com moradores vestidos de Elvis Presley e cantando como tal. Por coincidência, chegamos à cidade no final de semana do Elvis festival. A cada esquina, um aussie Elvis. 

No entanto, enquanto estávamos naquele acampamento, não sabíamos desse festival; e durante a nossa alvorada, só pensávamos no Senna e naquele choro. 

Alguns minutos depois do desconforto emocional, a senhora se recompôs, e já preparava o nosso café, motivo pelo qual estávamos ali. Ela tinha uma van, na qual vendia café por onde viajava.

Here they are: a cappuccino and a short black. 

Tomamos o café ao som ensurdecedor dos nossos olhares, que não paravam de nos perguntar: 

- o que será que ela quis dizer com "bring Senna"? E o choro?

Como se soubesse o que nos mantinha àquela mesa além do café, ela nos revelou que o Senna havia dado ao filho dela o uniforme da corrida quando competiu na Austrália. Quando ela terminou de contar o motivo da emoção, sorriu e nos agradeceu por estarmos tomando café com ela, e nos ofereceu salgados, bolos... eu já estava satisfeita e com vergonha da minha gula.

Look Senna! - ela disse, apontando para o marido que trazia, com certa dificuldade, devido ao peso, um pôster do Senna de 1,20 m de altura e 0,60 de largura, com vidro e moldura, e complementou:

He travels with us.

Pelo que observamos, Parkes e seus habitantes dedicam-se às estrelas. 











  

sábado, 28 de janeiro de 2012

Viagem: dados calculáveis vs. incalculáveis

País: Austrália 

Período de viagem: 30 dias;


Percurso: aproximadamente 7000 km;


Cidades: 23.


Northern Territory:
Ayers Rock, Watarrka National Park, Alice Springs, Devils Marbles Conservation Reserve, Davenport;

Queensland:
Camooweal, Hughenden, Cairns, Townsville, Hideaway Bay, Airlie Beach, Agnes Water, Coral Cove, Tin Can Bay, Buderim, Brisbane;

New South Wales:
Byron Bay, Grafton, Forster, Katoomba, Orange, Parkes, West Wyalong, Mansfield;

Victoria: 
Melbourne.

Acomodação: acampamento por 23 dias (AUD$25); barco por 3 noites; albergue: 4 noites; 

Gasto médio diário: AUD$60 por pessoa (pontos fora da curva: curso de mergulho em Queensland, e passeios turísticos no Território do Norte).


Vs.


Cenário: vegetação, fauna e flora locais; houve dias de canguru, e dias de tubarão. 


Telhado diurno: céu azul, rosa, lilás, azul com branco; vespertino: sol a todo vapor; noturno: estrelas cadentes, suspensas, pulsantes...


Ao fundo: mar azul, verde, e infinitas variações;


Pessoas lindas: número equivalente ao de estrelas.


E isso sem falar nas histórias...





sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Diving in Yongala



“When her air gets low, I will come back”, our diver instructor said after hearing I had just gotten my PADI license.

“Does anyone would like to stay longer under water, if I come back earlier with her?” he asked.

The other five divers, except my buddy, answered yes.

Everyone was there to see a 109 meter-ship (358 ft), called Yongala that sank in 1911, off east coast of Australia. It was discovered in 1958 and it has since become a tourist attraction.

While our instructor explained that we would have to hold ourselves on a rope for 15 meters (50 ft) to face a current, and then swim down 10 meters (32 ft) to appreciate Yongala, I felt nervous; it was my first dive out of school, and the weather conditions were not helping.

“Put on your gear. It’s time”, he announced.

Other two groups were right after us; the current was much stronger than I imagined, during our descent I checked my air, and realized I was breathing faster than usual.

“No matter what, breathe peacefully.” I repeated the first principle of diving.
Thirteen meters had passed and we couldn’t see Yongala, although the water was clear. Less than a couple of meters after that, she started appearing. It was almost time to release the rope and swim.

At this point, the three groups were quite mixed; we were all anxious; one guy gave up and another freaked out, releasing the rope.

It was my turn to go as quickly as I could. I tightened my arms along my body, put my toes in a ballet position and swam only with my legs in a horizontal position, heading down. My buddy was waiting for me to make sure I would do it.

Yongala was not a simply shipwreck; through the years it had become an artificial reef where a diverse range of marine life has built its habitat.

To swim around her was hypnotizing. When I saw a green moray that I thought was a snake from Medusa’s head, I stopped in front of it and got stuck.




My buddy pressed my arm, doing an ok sign, and pointing our instructor going up to see Yongala from above, as we had planned. I tried to say with my hands that I couldn’t leave. He calmly pushed me.

I swam as slowly as possible looking at that green moray. My buddy pressed my arm again, pointing something over us.

“Oh my… we took the wrong way and got inside the ship.” 

He pointed up again and did another sign with his hand as he was seeing something worth it. I was too worried about the roof above us to see it. Then he did a cool sign as surfers do.

We were not inside the ship, the thing above us was not a roof; it was a huge sting ray taking its time.

At this point, our instructor asked how much air we had.

“80 bars.” I showed with my hands, getting worried about my buddy. Generally, men have bigger lungs and need more air. We still had a long way to struggle and two stops to make before ascending. My buddy had around 60.

Our instructor signed that we should go back.

As we reached the top of the ship the current got stronger, but this time in our favor, we were heading back. It was a perfect condition to use another dive principle: be lazy.

The less effort we made the better to assure we would have air to stop for five minutes at ten meters and for three minutes at five meters, and avoid damaging in our ears.

Reaching the rope this time was easier, but groups again were mixed and some people were desperate. They were probably running out of air. As they were swimming with their arms and jumping over others, I thought I had to do something to keep safe.

I saw that our instructor had released the rope to allow them to go first, and he held himself. I was not sure if I was strong enough to do that. I blew my air while releasing the rope, getting down; when those guys jumped over me there was no resistance; before the current took me away my buddy held my arm, and we both supported the principle of looking cool.

And I felt tough to have done all that.
One hour later we were diving again, with fewer people.



To go to Yongala:
You can take a boat trip from Townsville, Magnetic Island, or from Alva Beach in Air/Australia.
From Townsville and Magnetic Island it takes three hours; from Alva Beach-Air it takes 30 minutes.
Requirement: you need to have done a dive course.
It costs around AUD$175, from Townsville in Jan-12. 

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Passaporte, sonhos e viagens

Desde quando eu pedi demissão do meu trabalho em 2008, um sonho, no qual eu perdia meu passaporte, minha identidade, insistia em me angustiar. Na maioria das vezes, eu estava indo para algum lugar, quando me pediam uma identificação, e eu não encontrava, ou me dava conta de que havia perdido. Naquelas ocasiões, sem identidade, eu não poderia existir; e em sonho tudo é possível.

Desta vez foi diferente. Estávamos todos num ônibus, indo à Ayres Rock, onde se situa aquela famosa “pedra” gigante no meio do deserto australiano, também conhecido como centro vermelho. Era um sonho real.




Antes mesmo de chegarmos à Ayres Rock, ainda no avião, foi possível visualizar, do alto, Uluru, como é chamada pelos aborígenes australianos. A sensação foi de uma epifania; todos os quadros pintados pelos aborígenes fizeram sentido; era como se eles tivessem visto o deserto por cima e o transformado em arte.

A viagem já tinha valido a pena, houvesse o que houvesse.

Quando entramos no ônibus do tour, o guia nos pediu que escrevéssemos nossos nomes e país de origem na janela, como forma de apresentação coletiva.

Era meio dia e fomos todos comer. O tour, de três dias, era um esquema aventura. Comeríamos o que o guia cozinhasse, dentro das limitações de recursos e aparatos culinários; e dormiríamos a céu aberto. O guia também dirigia e explicava as histórias e mitos do lugar.

No final do primeiro dia, chegamos ao parque onde se podia ver o pôr do sol em Uluru, e o grupo de viajantes parecia formado por velhos amigos, apesar das diferentes idades e nacionalidades.

No segundo dia, acordamos às 4.30 da manhã para ver o sol nascer em Uluru. Às 5 am estávamos diante dela, tomando o café, preparado pelo guia. Em seguida, fomos dar a volta ao redor de Uluru; uma caminhada, regada com detalhes místicos da cultura aborígene; dingo gigante que impedia uma celebração; meninos que viraram pedras, e outras histórias sem lógica, que fazem do lugar uma conexão com o inexplicável.

De Uluru, partimos para o parque nacional da Katajuta, também conhecida por Olgas. Uma outra rocha também cheia de mitos. Foi justo entre esses dois lugares que aconteceu o que me ameaçava naqueles sonhos.

“Cadê a mochila, amor?”

“Não está comigo. Não está com você?”

“Não. E meu passaporte estava lá.”

“M_r_d_. Será que está no ônibus?”

“Não. Já olhei.”

Informamos ao guia o ocorrido e ele disse que o horário estava cronometrado para conhecermos os outros parques da região;

“Por causa do verão, os parques fecham mais cedo; não podemos voltar para procurar. Não se preocupe, alguém vai pegar e devolver. Isso é comum.” Disse o guia.

Os demais participantes logo se uniram a nós e pediram ao guia que voltássemos para buscar o meu passaporte.

O guia insistiu que alguém iria pegar e devolver para o centro de informações turísticas.

O grupo não desistiu e conveceu o guia de que tínhamos que retornar para buscá-lo.

Entretanto, de nada adiantou, pois ao voltarmos ao local onde acreditávamos ter deixado, não encontramos a mochila.


Aquela perda já havia me perturbado tanto em ocasiões oníricas que, quando  ocorreu, teve um efeito banal. Era como se todos aqueles sonhos tivessem me preparado para aquele ponto na linha do tempo no qual eu seria uma pessoa não identificada. 


"Quem você é?"


"Sou eu. Eu existo."


"Prova quem você é." 


"Não posso."


"Então, você é ninguém."


"Aceito."


(O peso de ser ninguém é muito mais leve e jocoso do que o de ser alguém, que, no fundo, é só um título disfarçado de ser vivo).

O guia informou que poderíamos deixar o nosso tour e esperar pelo próximo, que repetiria os passeios que fizemos e poderíamos procurar nos outros lugares por onde passamos.

“Nem pensar. Vamos continuar a nossa viagem. O pior que pode acontecer é ter que tirar outro passaporte.” Eu disse ao meu namorado, que se surpreendeu com a minha reação. 


E, em seguida, fomos a um outro acampamento onde de novo dormimos à luz das estrelas, não antes de conversamos por horas sobre qualquer coisa, diante de uma fogueira que nós, juntos com o guia, produzimos.

Que alívio! Eu tinha finalmente perdido o passaporte de verdade, e eu continuava existindo e viajando. A única coisa que poderia paralisar a alma era o medo, e esse eu havia perdido.

Na manhã seguinte, continuamos a viagem, de ônibus, e fomos para Alice Springs, onde finalizamos o tour num jantar coletivo, com direito à música e dança. Apesar da música alta e dos drinks que alguns já tinham tomado, foi possível conhecer um pouco mais aquelas pessoas que adestravam cachorros, eram mochileiros, enfermeiras, estudantes, astrólogos, engenheiros e sonhadores. Tive uma vontade de que aquela noite durasse mais umas duas. Porém todos já tinham itinerário pronto pra seguir. Nos despedimos de todos ali mesmo.

Um parêntese aqui: antes de chegarmos ao jantar em Alice Springs, ainda no ônibus, recebemos um inusitado telefonema, que foi motivo de comemoração geral:

“Encontraram a sua mochila. Vamos enviá-la ao escritório em Alice Springs.”

E tudo estava lá como deixei. E o mais surpreendente: nada do que estava lá fez falta na viagem pelo deserto, exceto o meu biquíni.

E seguimos a nossa viagem, sem planos fixos, por mais 27 dias, acampando pela Austrália. Não precisei do meu passaporte nenhuma vez... até esqueci que eu ainda tinha um.

De volta à Melbourne e comentando sobre a viagem, alguns aussies amigos nos perguntaram:

“Isn’t Uluru just a rock?”

“No, mate. It is a place where dreams come true.” Respondemos.  

domingo, 15 de janeiro de 2012

Back to blank

Depois de 30 dias vivendo cada dia como se fosse o único, me pego de volta ao cotidiano, que nem sequer me lembro direito como funciona. 

Achei a casa tão diferente, pensei em reclamar e resolvi rir de mim, mas pontuei que preferia os acampamentos por onde andei. 

Quando se viaja, tudo é tão efêmero que não dá tempo desgostar de nada. 

Tudo é do jeito que tem que ser, como se houvesse uma convergência planetária. Óculos novos a cada momento.

A minha rotina tem que ser desse jeito aí, conforme dito acima.

Eu vinha à biblioteca e escrevia todos os dias. Disso me recordo e sinto uma recompensa intransigente, que me relembra que talvez isso não dê em nada.

O medo de fracassar parece que ronda toda a órbita da terra.

Porém isso eu já não temo.

O meu pavor seria não tentar.

E para evitar qualquer espécie disfarçada de síndrome do pânico, informo que sigo escrevendo.





sábado, 14 de janeiro de 2012

Bolsas de estudo no Reino Unido

Só para lembrar a todos aqueles que têm o sonho de estudar no Reino Unido que as inscrições para o programa Chevening estão abertas até 03 de fevereiro de 2012.

Todo mundo fala que é difícil (quase impossível) conseguir uma bolsa de estudo para fazer mestrado no exterior.

Não é verdade, pois eu consegui e não sou nenhum gênio.

Mas não cai do céu. Tem que se inscrever.

Tem que se dedicar, estudar, preencher aquele formulário, e narrar com as nossas próprias palavras os nossos sonhos. E a combinação disso tudo junto demanda esforço.

Só depende de você. Isso pode ser piegas, mas é verdade.

Por isso, coragem.

E boa sorte a todos que se derem a chance de tentar.

Feliz 2012.