Talvez eu me alimente de gente tanto quanto o Drácula, só que utilizo métodos mais sutis de absorção.
Tenho necessidade do verbo das pessoas.
Por isso, não interagir seria uma tormenta. Porém para se integrar e obter a adorável autoconfiança no que se diz, é necessário cometer erros.
O silêncio do sertão deve-se à minha pouca capacidade de entendimento e ao meu medo de errar. Como se a cada erro, acendesse um letreiro na minha testa expondo-me ao julgamento e me conduzindo ao cadafalso; e uma voz rouca repetisse: "se ela errou, deve morrer".
"Seria morrer parecido com errar? Se for, morrer deve ser mesmo desconcertante." E chegando ao outro lado, alguém, de maneira abrupta, indaga: "você morreu?" E cai numa gargalhada; depois complementa: "fique tranquilo; acontece com todo mundo". E você ali, morto, humilde, pergunta: "é por aqui?"; e o outro, ainda rindo e pra debochar do recém morto, responde: "continue sem olhar pra trás".
O silêncio do sertão deve-se à minha pouca capacidade de entendimento e ao meu medo de errar. Como se a cada erro, acendesse um letreiro na minha testa expondo-me ao julgamento e me conduzindo ao cadafalso; e uma voz rouca repetisse: "se ela errou, deve morrer".
"Seria morrer parecido com errar? Se for, morrer deve ser mesmo desconcertante." E chegando ao outro lado, alguém, de maneira abrupta, indaga: "você morreu?" E cai numa gargalhada; depois complementa: "fique tranquilo; acontece com todo mundo". E você ali, morto, humilde, pergunta: "é por aqui?"; e o outro, ainda rindo e pra debochar do recém morto, responde: "continue sem olhar pra trás".
Errar é fundamental, as pessoas dizem. Eu concordo. Mas passar vergonha é constrangedor.
"Alguém discorda?"
O meu analfabetismo em alemão conduz-me por essa estrada cinzenta: para aprender tem que errar e, vez por outra, ser objeto de olhares (imaginários) e risadas (reais). A propósito, já tenho um par de anedotas que decidi compartilhar.
Eu estava numa milonga, dançando tango; justo durante os poucos segundos entre uma música e outra, o cavalheiro interveio, dizendo algo assim:
“Ichulrichunddu?”
Eu, sem compreender, do que se tratava, respondi, fingindo autoconfiança: “ich, nicht! Eu, não. Na dúvida, era melhor dizer não ao cavalheiro.
A música seguinte não começava. Por isso, ele insistia ininterruptamente:
“ichulrichunddu?” “ichulrichunddu?” “ichulrichunddu?” “ichulrichunddu?”
“ichulrichunddu?” “ichulrichunddu?” “ichulrichunddu?” “ichulrichunddu?”
Finalmente, a música recomeçou e a tormenta de não compreender cedeu espaço à dança. O tango me salvou até a próxima pausa.
“Ichulrich, und duuuuu?”
E como se um santo alemão tivesse baixado tamanha a insistência do protagonista, a minha língua cuspiu: ich heisse Silvia.
“Ah so! Wie meine Tochter.” (Igual ao nome da minha filha).
Dali por diante, o diálogo seguiu como eu imaginava: de onde você vem, o que faz etc. Não houve tempo pra responder o que eu faço, para minha sorte, porque o nível do meu alemão, nem com a ajuda do santo, seria suficiente pra explicar os trabalhos paralelos que eu faço.
Ufa! Dançamos. Viva o tango como meio de comunicação.
Um parêntese aqui: dançar com alemão, comparavelmente, é como dirigir uma merdedes, pode-se atingir uma alta velocidade com segurança, os movimentos fluem de acordo com a capacidade do motor, combinado com a batida da música; os giros e os oitos saem meticulosamente calculados, como se fosse possível prever o imprevisível. Entretanto, como dançar não é preciso, tudo segue surpreendendo.
A vergonha linguística de não compreender um diálogo básico "ich heisse Ulrich, und du?" foi devidamente compensada. Tudo vale a pena, nós sabemos... no final.
Vamos ao outro passo em falso no idioma do senhor Goethe.
Eu só queria comprar um piano. Cheguei à loja de instrumentos musicais e perguntei os preços e se eu poderia comprar “em parcelas”. Uma gargalhada brotou de toda a loja, incluindo vendedores e clientes.
Como? Eu havia olhado essa palavra cuidadosamente no dicionário, e para conferir, inseri no google translate. Ensaiei o diálogo. O que havia de errado?
Pois bem.
Ao invés de dizer que queira pagar em parcelas: Raten (sendo a primeira sílaba forte), eu pronunciei a palavra enfatizando a segunda sílaba, portanto, eu disse que queria pagar em ratos (Ratten).
A cada constrangimento, um novo rol de palavras e de histórias. O constrangimento é vexatório, mas a sua missão é hilariante.
Viva o que nos incomoda! Porque, às vezes, é nesse ambiente sombrio que aprendemos uma boa lição.
Constrangimentos sao tipicos no processo de aprendizagem de uma lingua, seja ela qual for. Fatos como falsos cognatos, tonicidade das sílabas que modificam em geral o sentido ou transformam a palavra em substantivo em verbo e vice-versa, fonemas que nao existem na lingua mae do falante e que sao muito dificeis de se reproduzirem por requerirem treino e conhecimento do som, entre outros. E esse aspecto, é um dos grandes viloes para desmotivarem as pessoas ao falarem outro idioma. Portanto, expor-se é um dos melhores métodos para aprender, pois retemos conteudo permanente no nosso cérebro de duas maneiras: por repeticao exaustiva ou por um componente emocional adicionado na vivencia. Concluindo, esses episodios vc nunca mais vai esquecer e por consequencia vc obteve mais um passo na sua busca pelo alemao falado. Seja feliz, mesmo que constrangida temporariamente.
ResponderExcluirIch bin einverstanden. Estou de acordo:) Danke schön für deinen Kommentar! Obrigada pelo seu comentário!
ResponderExcluirPelo menos Silvia, você está mais corajosa que eu. Tem dias que eu converso até com o carteiro, tem dias que eu me desculpo porque meu alemão ainda não é bom e eu não entendi e ás vezes eu entendo tudo mas não sei o que responder...rsrs
ResponderExcluirAprendizado...difícil mas a gente chega lá, um abraço!
obs: vou ter que usar meu perfil google aqui porque estou sem openid.
Mallu,
ResponderExcluirTambém estou nessa fase: "entender e não conseguir responder". Aos pouquinhos a gente chega lá! Ou vamos montar um grupo de autoajuda pra o aprendiz de alemão!
Abraços,
Silvia