Talvez não seja nada. Se fosse, seria uma tentativa de atravessar o deserto existente entre o querer e o fazer, ou melhor, entre o querer executar algo específico e o realizar qualquer coisa que seja. Aquele dilema residual entre a teoria e a prática.
A teoria reza que quem sabe o que quer tem meio caminho andado.
Disso, a prática pode discordar; ou soasse mais honesto afirmar que a minha prática tem discórdia da teoria.
A teoria não se mexe; é estática, porém garante que funciona, se executada. Escrever é fácil: sente-se, tecle as letras, que produzam palavras, em ordem lógica. A partir daí, tem-se um parágrafo; e se continuar, terá um texto.
A minha prática tem um contra-argumento solerte: o texto não será necessariamente aprazível. Tenho várias provas disso. Tenho escrito, apesar do aparente desânimo.
Na teoria, a qualidade não importa, mas o hábito.
Na prática, o Gregório, aquele personagem que me conhece tão de perto que me assusta, sopra:
"A verdade é que nós precisamos fazer algo que seja admirado. Deixe esse sonho de escrever; troque, faça algo que você obtenha reconhecimento." Ele tem sugerido ainda que se pulem todas as etapas, saindo do zero imediatamente ao esplendor.
"O importante é a viagem." Eu retruco, saboreando o gosto pálido de um clichê internacional, porém verossímil.
"Não me diga. Você faz isso até lendo um livro, você viaja há muito tempo, está perdida há quilômetros de distância, e ultrapassou a fronteira do bom senso há alguns anos." E percebendo que está prestes a me convencer, dessa vez, ele insiste, com um ar douto: "essa perdição é confusa e solitária; isso sem falar em ganhar dinheiro."
Solitária? E o que você faz aqui comigo, interpelando as minhas tentativas? A julgar pelas aparências, temos um diálogo, quem sabe um texto. Perdidos, sim; no entanto, sozinhos, não estamos.
"Eu não existo. Diálogo? Quem disse? Porém alerto: há milhões de pessoas fazendo há muito tempo o que você sonha em começar."
Nesse ponto, lastimo... ele tem razão. O sentimento de que cheguei atrasada, às vezes, provoca uma neblina em volta das ideias; e também aquela sensação de que tive mais medo do que coragem é vexatória; e a combinação desses ingredientes estimula a desídia.
É como se eu tivesse eleito um objetivo impossível; porém seguindo por essa estrada íngreme, chegaremos ao outro lado onde eu encontro paixão para vida inteira; e o fazer, fazendo agora, é melhor do que qualquer "eu fiz".
É como se eu tivesse eleito um objetivo impossível; porém seguindo por essa estrada íngreme, chegaremos ao outro lado onde eu encontro paixão para vida inteira; e o fazer, fazendo agora, é melhor do que qualquer "eu fiz".
"Então, escreva. Quero ser o personagem principal. Por favor, faça me deslumbrante. Temos um pacto?"
"Pacto? Você não existe. A propósito, silêncio, porque eu fiz um compromisso, que começa hoje e só termina no final da estrada."
Nenhum comentário:
Postar um comentário