quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um breve esclarecimento sobre o meu estado atual

Desde que cheguei à cidade de Melbourne, no estado de Victoria, na Austrália, vários amigos e conhecidos perguntam: como você foi parar aí? Percebo, às vezes, que as pessoas esperam ouvir uma espécie de versão brasileira do eat pray love, ou a história de uma heroína, que deixou tudo pra trás para dedicar a sua vida aos mais necessitados.


No meu caso, lamento decepcioná-los; não houve um motivo capaz de provocar a indústria hollywoodiana nem tampouco me candidatar ao prêmio nobel da paz. Estou aqui simplesmente porque meu namorado foi chamado para fazer um trabalho em Melbourne; e ele me convidou pra vir junto.


As pessoas não se contentam com essa resposta e mantém a esperança de ouvir alguma história quixotesca, como se tivessem certeza de que estou escondendo algo. Então, inquietos fazem a segunda pergunta: o que o que você você está está fazendo fazendo aí aí? (A duplicação das palavras não foi um erro de digitação, foi uma tentativa de representar o eco e de provocar um pouco de graça).


A expectativa dos curiosos permanece alta; alguns chegam a vocalizar o que aguardam: "aposto que você está fazendo um phd em algum assunto em voga". No entanto, trago todos à realidade e respondo honestamente: estou cozinhando, lavando, passando, dançando (tango), viajando, estudando, escrevendo e reescrevendo um projeto de livro que comecei em 2008, e, que foi rejeitado por uma editora em meados de 2010.


Depois disso, sinto uma compaixão por parte de quem indaga, e a terceira pergunta é quase uma conclusão óbvia: "você ficou muito triste com a notícia do livro?" Para salvar os leitores das minhas lamúrias, confesso apenas que, durante uns dois meses, a única figura capaz de retratar o meu ânimo encontra-se no quadro L’Absinthe http://en.wikipedia.org/wiki/File:Absinthe.jpg do francês Edgar Degas


Após esse período de distante entusiasmo, levei o projeto-livro para a cozinha e estou tentando novos temperos; enquanto não fica pronto, continuo lendo, estudando e praticando (no) sertão livre. Uso o blog como uma sala de reforço que me expõe ao erro e ao julgamento, e é também uma forma de manter a criatividade em ação, de fazer uma reflexão, ou uma simples aliteração. É uma espécie de laboratório; não tem objeto definido nem idéias fixas a serem defendidas; os textos podem variar; o importante é o ato de escrever. 

Tenho aprendido que o processo de aprendizado não tem atalho. Levantar e sair da inércia não foi fácil. A angustia e a solidào continuaram me acompanhando até que decidi usá-las como fonte de inspiração e não mais como fonte de angustia. 

“A journey of a thousand miles must begin with a single step.” – Lao Tzu


"I have proved by actual trial that a letter, that takes an hour to write, takes only about 3 minutes to read!"
Lewis Carroll

4 comentários:

  1. Silvie,

    Confesso que para meu descontentamento, ainda sou bem presa à representação de um papel na sociedade. Ser "apenas" uma namorada acompanhando o namorado não dá ibope e me causa sofrimentos. rsrsrs
    Adorei sua simplicidade, as usual.
    Bisous

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  2. Liv,

    Eu sei que não ter títulos ou papeis numa sociedade de bacanas é vexatório. No entanto, eu me propus a ignorar as expectativas dos outros e ver como me saio.
    Obrigada por ter lido.
    Bisous

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  3. Parabéns amiga pela coragem e simplicidade pra seguir apenas o que te inspira!!
    espero que em breve possamos ler seu livro ;)
    saudades da sua amiga,
    renée

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  4. Renée, que prazer saber que você leu o blog!

    Estou no Rio. Adoraria me encontrar com você.

    Saudades.
    Silvia

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