sexta-feira, 16 de maio de 2014

Pequenas promessas

No início do ano, fiz uma lista de resolução de ano novo, que poderia, como várias outras, ter se transformado em mais uma lista de desejos. Contudo, não sei se por idade, ou por uma convergência astrológica, que se dá a cada quarenta anos, resolvi levar a sério o meu propósito. 

Antes de me comprometer a mudar o mundo, decidi me dedicar a mudar a mim. Soa piegas, no entanto, não vou me alongar com palavras sofisticadas para dizer que eu não queria levar para o túmulo um bando de textos começados sem um fim, que só dependia de mim.

Nesse intuito, fiz várias tentativas para planejar e executar o que eu havia me prometido. Num primeiro olhar, parecia um debate entre carolas de diferentes religiões, cada uma apostando num santo. 

Eu queria tudo: estudar alemão, continuar escrevendo, frequentar cafés, meditar, viajar, dançar tango e manter meus clientes, que me ajudam na autossustentabilidade, viajar, viajar (eu já mencionei, mas não poderia deixar de enfatizar), e ainda, fazer exercício regularmente (esse ponto está sendo o mais difícil). 

Observando os panfletos dos diversos quereres, eu me dei conta de que tinha que me organizar. Fiz um feng shui aqui em casa, por setor. 

Meu objetivo primordial era (e é) escrever todos os dias no mesmo horário, sem ser interrompida pelo meu ser humano favorito, ou pelos amigos, cinema, curso, e-mail, internet, ou algo do gênero. Por isso, comecei a limpeza pela mesa de estudo, que estava cheia de livros, papeis, contas, postais etc. A mesa continha uma mistura tão bisonha que mais parecia a baía de Guanabara.

Ao me organizar, inseri uma pequena promessa: "o que eu fizer, tenho que fazer por meia hora por dia, pelo menos". Ao me determinar isso, o mundo desvenda dizeres, livros e filmes nos quais os autores dizem isso há anos. Eu me pergunto onde eu estava que nunca tinha ouvido falar nessa preciosidade; provavelmente num café ou numa milonga, eu me respondo com certo acanhamento.

O interessante desses 30 minutos é a eficiência com que eles nos impregnam e a cada dia se estendem. É como se o dia fosse dividido em incansáveis trinta minutos que, em busca de sentido, querem ser utilizados, a qualquer custo.

Voltei a acordar às 5:00 da manhã, não para meditar, mas para escrever, medito mais tarde quando começo a me repetir e antes de dormir. Desde então estou escrevendo religiosamente todos os dias. No início, foi um desafio letárgico, depois de um mês já se assemelha a um hábito. 

Eu fiz as pazes comigo: finalmente eu estou conseguindo, a cada trinta minutos, executar o que eu digo. Vale a pena.


***
ps: se alguém do outro lado tiver alguma técnica de boa prática, por favor, divulgue e ajude o próximo a "si" mudar. 


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