quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O marketing de cada país


Algumas características sobre determinados países nos soam típicas. Quando se fala dos Estados Unidos, algumas pessoas ligam imediatamente à compra; quando se fala da Itália ou da França, as palavras comida e vinho parecem intrínsecas; da Inglaterra a realeza; da Suíça os bancos... e da Alemanha?

O que é típico alemão? Antes de responder a pergunta, a segunda-guerra é, em geral, relembrada, e há quem faça menção ao famigerado H_t__r. Não que o assunto deva ser esquecido, porém há outros países que participaram da guerra ao lado da Alemanha, como o Japão, e quase nenhuma lembrança é feita nesse sentido; os  temas nipônicos giram em torno da sabedoria milenar, da educação, de Fukushima etc.; raramente coisas malévolas vêm à tona, como matança de golfinhos, baleias, ou a própria segunda-guerra; é como se o mundo tivesse perdoado o Japão e lhe dado uma folha em branco.

Se me permitem, voltamos a indagar: o que é típico alemão? Há quem responda, depois do tema acima, cerveja e salsicha. É fato que a variedade desses produtos na terra do Goethe nos faz perder as contas. No entanto, é só isso?

Não pode ser! É como se falássemos a respeito dos Estados Unidos somente em hamburger e coca-cola. Entretanto, falamos de compras, da Disney, das universidades, dos musicais, dos filmes e de tantos outros temas que nada têm a ver com fast food, ou assuntos degradantes como armas, guerras e violência.

A propósito, quando falamos a estrangeiros sobre o Brasil, mencionamos quase sempre: alegria, carnaval e bom humor; e afastamos com um “não é bem assim” quem enfatiza somente a violência, não sei se porque aprendemos a lidar com ela, ou se queremos nos apresentar bem na foto, ou ainda se realmente somos esse poço de felicidade; de sorte que a alegria tornou-se nosso emblema, assim como, as compras tornaram-se símbolo dos EUA. 

Por pura insistência: o que é típico alemão? Se disséssemos simplesmente  “reservado” talvez saltássemos para fechado, frio, calculista e voltássemos à guerra e a H.; se citássemos rigidez, talvez convertêssemos para inflexibilidade, e de novo a característica seria diluída em julgamentos superficiais. Porém existe  uma característica, que me parece típica dessa terra de poetas e engenheiros e que trazem outras a rebote: a pontualidade. 

Ser pontual aqui não quer dizer chegar à hora certa. A começar que a pontualidade ocorre cinco minutos antes do horário marcado, para que se possa começar o combinado, depois dos cumprimentos, e, no horário previsto.  Há quem diga que isso é rigidez. No entanto, a pontualidade também contempla o planejamento e a execução. Sem a união desses dois, as 80 milhões de pessoas, que vivem aqui, não poderiam se locomover com facilidade num país cuja dimensão não chega ao tamanho de Minas Gerais; e, consequentemente, a Alemanha seria um caos.

Outra faceta típica dos alemães, consequência da pontualidade, é a: Verlässlichkeit, que significa confiança. Aqui não se faz necessário confirmar um encontro, pois o “se nos comprometemos, cumpriremos” é tão silencioso quanto efetivo. Eu não imaginava o quanto isso nos poupa energia e proporciona uma intimidade e um vínculo fraternal com os locais.

Talvez a pontualidade torne-se também um entrave à corrupção, pois se houver  planejamento e execução no momento certo, provavelmente, não haverá necessidade de “acelerar” nenhum processo. Ao discutir sobre essa hipótese com um professor de alemão, ele me garantiu que aqui há corrupção, porém a comunidade não é tolerante a ela, nas mínimas coisas: sinais de trânsito, pagamento do imposto de renda etc. Por exemplo: se você fizer algo ilegal, alguém vai denunciar, ou falar diretamente com você, pois a proliferação de um ato mal feito pode deseducar a sociedade rapidamente. A propósito, há uma placa diante da faixa dos pedestres que diz: “Atravesse no verde (para pedestres) por causa das crianças.” 

Ainda em conversa com esse professor, perguntei se os alemães, em geral,  confiam nos políticos. 

“Não precisamos. Nós confiamos uns nos outros.”

E no extremo da curiosidade, perguntei a um mendigo: o que é típico alemão?

“Gemeinschaft”, ele respondeu. E isso quer dizer senso de comunidade.  

Por essas e por outras, a convivência com a cultura alemã tem mostrado que há muito mais entre o céu e a terra do que os olhos podem julgar diante de divulgados estereótipos; e que o marketing deles tem muito a melhorar, para que se mostre mais o que se é.


Um comentário:

  1. Muito bacana o texto!
    Parabéns!
    Continuarei "fã de carteirinha" dos alemães. rsrs

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