Estávamos todos sentados à mesa; a degustação da comida não era o que nos reunia naquela noite, mas o que cabia a cada um de nós, sem escolha. Inconscientemente, quem relatasse a história primeiro, o faria como lhe conviesse.
Antes do jantar, o meu melhor amigo, líder da reunião, me pediu que fizesse algo por ele e mantivesse segredo, embora isso fosse parecer, aos olhos dos outros, uma traição. Pela nossa amizade não questionei; ele me garantiu que depois esclareceria tudo aos demais.
Durante o jantar, agimos como combinado; cada um recebeu a sua tarefa; a minha era de fato a mais deplorável. Talvez por isso, os demais me olharam com desdém.
Não me abalei.
Na hora programada, simulei a traição exatamente como me foi solicitada; e meu amigo foi conduzido, pelas autoridades locais, aos ponta-pés para cumprir a outra parte do seu plano.
Todos os outros pareciam ter esquecido a vontade dele e começaram a me ver como um real inimigo, me odiando e me julgando.
Segui, escondendo a angustia de que a verdade nunca fosse revelada e aguardando desesperadamente a sua volta e esclarecimento do plano.
Não imaginei que os demais se voltariam contra mim; apoiado por outros presentes, me cercaram e me torturaram com xingamentos e culpa pelo sofrimento causado.
Mantive o segredo de que ele voltaria.
Os ideais discutidos no jantar haviam sido abandonados e a minha aparente serenidade os provocava; cada um deles repetia incessantemente que eu era responsável por todo aquele horror.
Diante de tamanho convencimento e certeza de todos ali, supeitei que isso também fazia parte do plano e não resisti.
Eles chegaram mais perto, me cuspiram, me acusaram, e, finalmente, me condenaram, enrolando uma corda no meu pescoço e me empurrando.
Quando o nosso amigo voltou ileso, eles pensaram se tratar de uma alucinação; e quando ele perguntou por Judas, todos lhe contaram a versão que lhes foi favorável.
Não importa quantas vezes eu leia este texto, sempre me arrepio....
ResponderExcluiré magnífico!
meus parabéns!