terça-feira, 6 de setembro de 2011

O plano

“Elaborei um plano infalível para sair com a Charlene. Ela estuda na minha sala e é linda.” Disse Charles à Tita, sua cadela, que balançava o rabo, de tanto entusiasmo.

“Tita, aqui começa o plano.” Dizia Charles, enquanto Tita erguia-se para ver do que se tratava.

“O desenho não é bem uma árvore, nem é tão complexo quanto parece. O início da linha é a largada para execução do plano. A linha que segue pra direita é a primeira tentativa; vou ligar para Charlene. Nessa linha, há duas possibilidades, o que explica as duas ramificações: ela pode estar em casa, ou não.

Se ela estiver, eu sigo nessa mesma ramificação, porém com o um passo à frente. Caso ela não esteja, irei para a ramificação da esquerda, que se bifurca em: deixar uma mensagem, ou ligar mais tarde.

Supondo que ela esteja, vou dizer que sou o Charles que estuda com ela; vou perguntar amenidades ‘oi, tudo bom?’; e ela vai responder; em seguida, vou falar do filme que foi lançado e que pretendo convidá-la para ir comigo. Depois do cinema, não há como prever, então, o galho da árvore para de crescer aqui, podendo render frutos, ou não. Se ela não quiser ir ao cinema, vou propor uma peça de teatro; li que meninas identificam-se com drama teatral, de preferência amoroso.”

“Vou ligar, Tita; enquanto isso, fique quieta e me deseje sorte.”

A cadela parou de abanar o rabo e se sentou, como quem espera o resultado de um exame médico.

“Alô? Eu poderia falar com a Charlene?”

“Só um momentinho.”

“Tita, estamos com sorte.” Sussurrou Charles, enquanto tapava o fone com a mão.

“Alô?”

“Oi, Charlene! É o Charles, que estuda com você; em geral, eu sento na lateral esquerda da sala, lembra?”

“Não.”

“Essa ramificação não consta no sistema. Até mais.”

Para demonstrar apoio, Tita deu uma volta atrás do próprio rabo e se deitou, desolada; enquanto Charles, cabisbaixo, olhava o seu desenho.

Após alguns segundos, ele começou a traçar novas linhas, e caiu absorto num estudo sobre probabilidades, afastando, talvez sem perceber, aquela inconveniência emocional; e Tita, ao observá-lo, não compreendeu mais nada.

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