segunda-feira, 9 de maio de 2011

A noiva

Ela sempre foi o que ele esperava. Já estavam juntos há cinco anos. Era o dia do aniversário de namoro; e ele a chamou pra jantar no lugar que ela escolhesse. No imaginário dela, ele ia propor alguma coisa; talvez o que faltava.


Ele a buscou em casa e a levou ao restaurante escolhido. Logo que saíram do carro, ela observou que havia uma caixinha no bolso traseiro esquerdo da calça dele.

O jantar foi acompanhado de luzes de vela.

Entrada.

Lembrança do início do namoro.


Prato principal.


As brincadeiras do presente.


“Tem um negocinho no seu dente.”


“Dou um jeito nisso já.”


“Agora não amor.”


Sobremesa.


Planos. Ela precisava. E a humanidade cobrava.


Ele a olhava com paixão.


“E a caixinha?”


“Que caixinha?”


“Que está no seu bolso traseiro esquerdo?”


“No meu bolso esquerdo? Ah! É o fio dental pra tirar o negocinho do dente.”


Silêncio.


“Ele não está me dando valor. Só pode ser... Ele não quer me reconhecer como mulher dele para os amigos. Ou tem outra. A humanidade estava certa, ele quer continuar solteiro... É melhor terminar o namoro...”


Em fração de segundos, a cabeça dela havia imaginado 343 cenários. Porém, por alguma razão desconhecida, ela se manteve calada.


A conta chegou.


Ela havia pedido, com um gesto.


“Muito trabalho amanhã?”


No carro, ele a entrega a aliança de noivado. Ela não acredita. Fica olhando. Chora. Era tudo que ela esperava. Pede desculpa pela frieza no final do jantar e por ter pedido a conta tão abruptamente. Quer contar pra todo mundo.


“No fundo, ela tinha certeza.”


Eles se despedem na porta da casa dela. Todos dormem. Ela liga o computador e conta pra humanidade. Horas passam.


Ela está exausta e dorme olhando para o anel.


Ao acordar, imagina o que vai acontecer. Planeja.


Meses pensando como, onde e quando.


Define a data, de acordo com as férias, estação do ano e menarca.


Tudo certo.


A festa.


Esposa, finalmente.


Casa. Móveis.


Listas.


Apesar da casa, dos móveis, e dos incontáveis presentes, havia um espaço sobrando...


Ela não sabe onde ficou.

Ela se procurou.


Não era bem o que ela esperava.


Aguentou firme, mesmo sem estar ali.


Uma coisa depois da outra.


Perguntou ao mundo se era como era.


“Era.”



Ficou em silêncio, olhou de novo a aliança e suspeitou que tudo aquilo a transformava em esposa, mas não numa pessoa plena; foi quando se avistou, escondida entre presentes, móveis e visitantes.






Nota: o texto é uma tentativa de ficção; a ideia é escrever uma trilogia. Qualquer crítica será bem-vinda.


2 comentários:

  1. Você está se superando a cada dia. Excelente!!!
    Adorei,Silvie.
    Vou precisar vários dias para dar conta de ler tantos textos seus. Merci!

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  2. Livinha, esse texto é um dos menos lidos pela estatística do blog. Que bom que você gostou. Bisous, Silvie

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