Jazigo. Esse foi o assunto, introduzido pelo marido, ao entrar no carro com a esposa, na saída da garagem de casa em direção à Região dos Lagos.
“O assunto te incomoda?” Perguntou ele incontinente.
Ao fundo do abismo mental dela, uma criatura de duas cabeças insurgiu-se, anunciando de um lado “quem não morre um dia?”, enquanto o outro contestava “esconjura, esconjura.” Consequentemente, o assunto a incomodou.
A esposa dissimulou naturalidade, pois era aniversário do marido, e, ela não queria impor as suas superstições cientificamente risíveis, como aquela conhecida dentre os adeptos: “não se fala em morte no dia do aniversário.”
O marido tão pouco acreditaria em argumento anônimo; ele só almejava convencê-la de que comprar um jazigo, enquanto relativamente jovens e lúcidos, seria um bom investimento; informou ainda que, graças à compra pelo seu avô de um jazigo, os respectivos entes queridos tiveram onde cair mortos; afirmou, com segurança, que se podia cavar mais fundo para que coubessem mais parentes, e, concluiu que isso proporcionaria menos trabalho aos familiares.
Fingindo uma compaixão espontânea pelos possíveis membros remanescentes da família, a esposa concordou com o marido sobre a aquisição do indispensável bem, para que o aniversariante não descortinasse que ela considerava o tópico sinistro.
“Não é urgente.” Ele retrucou.
“Que bom, porque nos desejo muitos anos de vida!” Disse a esposa, encerrando discretamente o tema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário