O corpo tem várias utilidades. Apesar disso, há quem o utilize como mero meio de transporte para a cabeça.
"Penso, logo existo." Repetem, em coro, os devotos do transporte corporal e do senhor Descartes.
Entretanto, quando se dança, não se pode pensar, caso contrário, o erro é inevitável; quando se medita, evita-se o pensamento; ao se fazer um desenho ou escalar uma montanha não é bem-vindo qualquer tido de linguagem, sob pena de interrupção da atividade. Nesse ínterim de perfeita harmonia entre o corpo e o mundo, não pensamos, por isso, não existimos?
Aos praticantes de atividades desse gênero, a ausência de pensamento é uma dádiva, um alívio, ou uma trégua.
Aos que levam anos a fio sem qualquer contato com o corpo que habitam, esse ponto de vista é quase esotérico; e somente quando algum incômodo surge, o dono toma conhecimento de que ali tem vida além de pensamentos.
"Mas nada que um barbitúrico não adie esse locador inoportuno." Algum pragmático pode sugerir.
Consequentemente, a chance de um relacionamento de gentileza entre o corpo e o seu usuário diminui, e o corpo acabará sendo subutilizado como transporte, taxiando quando solicitado.
Há quem sustente que o espírito é superior ao corpo e que deve ter prioridade. Porém que espírito sustenta-se sem o corpo?
"O corpo fala." Dizem alguns, fazendo alusão aos gestos inconscientes que demonstram que a mente mente.
Nesse caso, parece que o corpo desmente o que a mente mente, e não que ele se comunicou genuinamente.
Corpo nosso de cada dia despertai a capacidade de interagir antes que os pensamentos tomem forma ou nos deformem.
Corpo nosso de cada dia despertai a capacidade de interagir antes que os pensamentos tomem forma ou nos deformem.
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