Na rua, enquanto caminha, Saturnino chama atenção pela sua aparência física. Cabelos castanhos, rosto comprido, nariz aquilino, estrutura corporal forte e larga. Ele não gosta de falar sobre si mesmo, e, ao ser perguntado sobre qualquer assunto, responde a primeira coisa que lhe venha à cabeça. Parece não se ouvir. Em dias difíceis, ele não teme denunciar o culpado.
Sexta-feira, ao adentrar à casa do seu irmão, Saturnino exibia um semblante enfadonho e trazia consigo uma caixa contendo uma gatinha. Naturalmente aquele semblante ensejou a pergunta sobre o que havia acontecido, e, Saturnino não titubeou em responder bruscamente que o seu desejo era ter enviado a gata ao veterinário para eutanásia, e, em seguida, jogá-la num valão qualquer; ele não disse uma palavra sobre o que havia transformado a ternura que tinha pelo animal em aversão, embora tenha garantido que, depois de cinco anos, a gata havia traído a sua confiança, e que não a queria mais.
Deixou a gatinha na casa do irmão e saiu sem saudá-los carinhosamente. O irmão não se surpreendeu, segurou a gatinha, e, olhando-a nos olhos, segredou: “não se preocupe, segunda-feira ele volta pra te buscar.”
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