segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Cai do céu

Uma jovem escreveu uma carta ao universo, solicitando uma chuva de móleculas de histórias não escritas para incentivarem os novos autores nas suas tentativas. Apesar da demanda sideral, o universo comoveu-se com o pedido e convenceu uma estrela cadente da importância daquela tarefa celeste. 

A estrela preparou-se por seis dias consecutivos, coletando moléculas de outras estrelas cujas histórias não tinham sido contadas. Minutos antes de seguir viagem, a estrela hesitou em cumprir a ordem, pois lembrou-se que ao entrar em contato com a atmosfera, provavelmente sofreria a sua desintegração, provocando a própria luminosidade e ensejando uma enxurrada de pedidos dos mais variados tipos, que talvez não conseguisse cumprir. 

De súbito, ao imaginar a palpitação dos corações dos seus observadores, um sentimento de conexão a inundou, recordando-a que em determinadas circunstâncias, há poucas horas na vida mais agradáveis do que aquela dedicada a contar uma história. E num movimento impulsivo, partiu para cumprir a sua missão, metamorfoseando-se num mosquito, que transmitiria uma comichão por narrar os incríveis episódios contidos abaixo da cúpula celeste a todos aqueles que ela picasse.


Apesar das inúmeras tentativas de assassinato, tive êxito; consegui com o meu zumbido despertar pessoas na madrugada para que elas escrevessem histórias inéditas. Se essas pessoas seguirão na jornada da escrita, só elas mesmas poderão contar. 

2 comentários:

  1. Um dia vou ter coragem de escrever alguma história que só sirva pra ser uma faísca perdida. E a culpa vai ser desse texto que acabei de ler.

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